Comentários à bandeira

Proposta de bandeira nacional por Guerra Junqueiro (1910)

A série de artigos que aqui publiquei sobre a bandeira nacional suscitou alguns comentários de várias pessoas em particular do Jorge Mota, do JS e do Carlos José Teixeira, comentários que eu agradeço e que servem de mote ao texto que se segue.


A Bandeira e o Futebol Clube do Porto

Diz o meu caro Jorge Mota que o FCP veste actualmente as cores da bandeira nacional monárquica e, de facto, assim é. Na altura da escolha de um equipamento para a equipa do FCP, foi decidido adoptar as cores nacionais de então como cores do clube, cores essas que até hoje subsistem, salvo algumas inovações mais alaranjadas para o equipamento alternativo, não tendo havido alteração mesmo após a revolução de 1910.


A simbologia da bandeira à luz do relatório da comissão de 1910 / 1911

Enquanto que o Carlos Teixeira mostrou dúvidas em relação ao significado das cores, o J.S. comentou o facto de existir no site do Ministério da Defesa Nacional uma explicação, estabelecida em 1911 por uma comissão, para a simbologia da bandeira.

Em primeiro lugar, convém esclarecer que comissão era esta.

Após a revolução e consequente dissolução dos órgãos de soberania então vigentes, sentiu-se necessidade de alterar também a bandeira nacional. Devido à polémica que essa nova escolha levantava e, também em parte, devido à quantidade de propostas apresentadas por várias pessoas, a Assembleia Nacional Constituinte decidiu nomear uma comissão que apresentasse um relatório sobre qual deveria ser a simbologia expressa na nova bandeira.


Sobre a bandeira nacional disse então a Comissão no seu relatório:

Escudo nacional:
"o branco representa uma bela cor fraternal, em que todas as outras se fundem, cor de singeleza, de harmonia e de paz (e sob ela) salpicada pelas quinas (...) se ferem as primeiras rijas batalhas pela lusa nacionalidade (...). Depois é a mesma cor branca que, avivada de entusiasmo e de fé pela cruz vermelha de Cristo, assinala o ciclo épico das nossas descobertas marítimas”.
O escudo branco com as quinas consagra “o milagre humano da positiva bravura, tenacidade, diplomacia e audácia que conseguiu atar os primeiros elos da afirmação social e política da lusa nacionalidade” e entendeu ainda “dever rodear o escudo branco das quinas por uma larga faixa carmesim, com sete castelos, símbolos mais enérgicos da integridade e independência nacional”.

A esfera armilar
Simboliza “a epopeia marítima portuguesa (...) feito culminante, essencial da nossa vida colectiva”.

O vermelho da bandeira:
“nela deve figurar (o vermelho) como uma das cores fundamentais por ser a cor combativa, quente, viril, por excelência. É a cor da conquista e do riso. Uma cor cantante, ardente, alegre (...). Lembra o sangue e incita à vitória”.

O verde da bandeira:
Aqui a comissão justificou a inclusão do verde de uma forma muito interessante. Assim, o verde seria uma cor fundamental pois simboliza o “momento decisivo em que, sob a inflamada reverberação da bandeira revolucionária, o povo português fez chispar o relâmpago redentor da alvorada". Refira-se que o verde foi uma cor adoptada pelos republicanos após a revolução falhada de 31 de Janeiro de 1891.

Ou seja, esta comissão limitou-se a escolher, à excepção do verde e vermelho (cores alusivas ao Partido Republicano), símbolos que integravam já o estandarte nacional desde há séculos, arranjando uma justificação mais ou menos rebuscada (sobretudo nas cores) para a sua escolha.

Quando me refiro à responsabilidade do Estado Novo na explicação de cariz lendário dos símbolos da bandeira, refiro-me ao que é tradicionalmente descrito: que os besantes dos escudetes são as 5 chagas de Cristo, os escudetes são os 5 reis mouros que Afonso I derrotou em Ourique (aqui há uma correcção de um engano meu nos artigos anteriores) e que os castelos da moldura vermelha seria os castelos conquistados aos mouros (no Algarve). Ora esta explicação não é avançada pela comissão mas é ainda hoje utilizada de modo corrente pelo que terá de ter surgido posteriormente.

Trata-se de uma explicação que estabelece um vínculo de um espírito iminentemente heróico e cristão com a história de Portugal e por isso, o mais provável é que terá sido este um contributo do Estado Novo que usou e abusou desta abordagem na exaltação do patriotismo lusitano, recuperando inclusive estandartes antigos para a simbologia das instituições nacionais como é o caso do estandarte de D. João I que foi usado como estandarte da Mocidade Portuguesa.

O próprio conceito de "lusitano" entrou de forma corrente no léxico português, tal como da figura quase mítica do líder guerreiro Viriato, por acção do Estado Novo. Basta pensarmos que Viriato, o primeiro grande líder das gentes lusitanas, herói indómito do espírito nacional, foi adoptado ao mesmo tempo pelos espanhóis (também eles na altura sob um regime de cariz nacionalista). É claro que ele existiu realmente... não é existem é provas (arqueológicas ou documentais) de que ele realmente tenha nascido no actual território português (em Loriga como se gabam os habitantes desta localidade) e de que alguma vez ele tenha sequer pisado a Serra da Estrela.

Mas isto é um tema para outro artigo...
Imagem retirada de Flags of the World


Artigos anteriores:

Comentários

Anónimo disse…
Mas quem é que vai ler isto tudo?
David Caetano disse…
Quem estiver interessado em aprender alguma coisa.
Anónimo disse…
http://www.setbb.com/fcp/ <--- podem participar kem for portista... ajude esta comunidade Portista Crescer

FCP FOREVER
joão martins disse…
Gostei da explicação sobre as cores da bandeira. Não há nada como ir as fontes.