
Estava-se então em período áureo do Estado Novo e na pequena aldeia de Vale da Figueira, aldeia perdida nas faldas da Serra da Maúnça, a população debatia-se com a dificuldade em encontrar um terreno disponível e favorável para cumprir uma aspiração de longa data: a construção de uma capela que servisse as necessidades espirituais e religiosas dos habitantes.
Num interessante gesto de altruísmo, o meu bisavô decidiu doar parte de uma sua propriedade, situada numa posição cimeira da povoção, para aí se implantar a capela. O pior foi quando, após a construção do referido templo, o padre que aí pregava assumiu que todo o terreno passara a ser propriedade da Igreja, pela simples razão de nele se situar a dita capela.
Após várias disputas, o meu bisavô decidiu por iniciativa própria construir um muro que separasse o local de implantação da capela do resto da sua propriedade. Não foi preciso mais para que fosse denunciado pelo padre como sendo alegadamente comunista, mesmo que o meu antepassado não fizesse a mínima ideia sobre o que era isso dos comunistas, e fosse preso e metido nos calabouços em Castelo Branco, sem acusação formada e sem qualquer explicação para si ou para os familiares, como aliás era tradição naquela época.
Felizmente, na altura as instituições tinham, apesar de se viver em ditadura, uma estrutura orgânica e um funcionamento algo semelhante ao actual e, após vários meses de solicitações por parte dos familiares, o meu bisavô foi finalmente libertado a troco de 2 ou 3 cabritos oferecidos a um elemento bem colocado nas autoridades locais.
Fica por saber se lhe chegaram a explicar o que era isso dos comunistas. Quanto ao muro, esse ficou onde estava.
Foto: Caminhos da Memória
Comentários