À descoberta da Praia de Fornelos - Montedor/Carreço

Nem só de castros vive a arqueologia minhota, embora só no concelho de Viana do Castelo estejam inventariados mais de 40. Um dos locais mais interessantes que tivemos ocasião de visitar foi sem dúvida a zona que se estende da praia de Fornelos até Montedor, na freguesia de Carreço, monte que se ergue junto ao mar e que actualmente está coroado por um farol... construído sobre as ruínas de um castro (tinha de ser!).

Partindo das pias salineiras, num percurso diferente daquele que há pouco mais de um ano atrás fizemos, descobre-se um grande painel rochoso com gravuras rupestres de motivos esquemáticos zoomórficos (basicamente, bicharada desenhada com meia dúzia de riscos), representando essencialmente cervos e cavalos. É fácil imaginar a abundância destes animais, numa paisagem em que as serranias estão separadas do mar por uma grande planície, que faziam parte da vivência diária das primeiras comunidades que aqui se fixaram.



Nem só da caça e, mais tarde, da agricultura, viviam estas comunidades primordiais. Também o mar era uma abundante fonte de alimentos e os moluscos que se fixavam nas rochas e ficavam expostos, tal como hoje, durante a maré baixa, eram já então um petisco muito apreciado.

Actualmente encontram-se ainda muito esporadicamente alguns instrumentos de pedra que então eram usados para arrancar os moluscos das rochas. Os mais comuns são os chamados "picos asturienses", instrumentos simples feitos com seixos lascados e assim chamados pela zona onde inicialmente foram descobertos. No entanto, a indústria de instrumentos líticos também produziu muitos outros instrumentos, tanto pelo emprego dos seixos lascados, como pelo aproveitamento das próprias lascas, usadas para produzir instrumentos de menores dimensões.

Embora não seja fácil encontrar instrumentos líticos deste género (é mais fácil encontrar erros ortográficos no software do Magalhães, por exemplo), posso afirmar por experiência própria que dá muito jeito ter uma namorada com um fabuloso olho de lince e que desencanta picos asturienses com a mesma facilidade com que uma pessoa asseada se limpa a um guardanapo e que quase conseguiu fazer-me parecer perfeitamente cabível a ideia de levar um carrinho de mão para a praia.


Da nossa "prospecção" - chamemos-lhe assim - resultou a descoberta dos instrumentos visíveis na foto, bem como de núcleos dos quais foram retiradas várias lascas. É possível verificar que o instrumento da direita se encontra bastante desgastado por alguns milénios de erosão marítima.

De acordo com Cortina, Moralez, Uria e Asensio, da Universidade de Oviedo, num artigo intitulado "Picos Asturienses de Yacimientos al Aire Libre en Asturias", este tipo de utensílios define uma época de transição entre o Paleolítico e o Neolítico, e poderão situar-se entre 10.000 a 5.000 anos antes de Cristo.

Para o deleite audiovisual dos nossos leitores, aqui fica o 2º vídeo oficial do Blog do Katano que sintetiza aquilo que foi o passeio na base deste artigo:


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