15 coisas que não sabias sobre o filme "A Vida de Brian" dos Monty Python


Os Monty Phyton, grupo de comediantes formado em 1969 e que criou uma forma de comédia revolucionária, rompendo com os padrões clássicos para abraçar um estilo perfeitamente surreal que fez escola e é seguido por muitos comediantes actuais. Em Portugal, os Gato Fedorento nunca esconderam a sua admiração pelos MP.
Da esquerda para a direita: Michael Palin, John Cleese, Graham Chapman, Eric Idle, Terry Gilliam e Terry Jones
Fonte: BBC Culture


"A vida de Brian" é um filme de comédia escrito, realizado e protagonizado pelos Monty Python em 1979. O filme conta a vida de um judeu que nasce na mesma noite e praticamente paredes meias com Jesus Cristo e que acaba ele próprio por ser elevado à categoria de Messias. Por satirizar dogmas que são transversais ao judaísmo, cristianismo e islamismo, o filme provocou grande polémica aquando do seu lançamento. Contudo, como os Monty Python sempre afirmaram, o filme não pretende criticar Jesus Cristo, uma vez que ele "não era engraçado, era boa pessoa e dizia coisas decentes", mas é antes uma sátira da mentalidade acrítica e seguidista dos crentes da religião e do contexto político da altura.

Na altura da sua estreia foi alvo da fúria de grupos religiosos mais ferrenhos que acusaram o filme de ser blasfemo e sacrílego, chegando este a ser proibido em vários países e em partes de outros como o Reino Unido e os EUA. Algumas destas proibições só seriam levantadas já nos anos 2010.

Esta polémica acabou contudo por ser uma excelente campanha publicitária para o filme que se tornou o maior sucesso da carreira dos Monty Python. Em 2001 e em 2004 o filme regressou às salas de cinema onde alcançou um resultado de bilheteira modesto.

Fazer e lançar o filme não foi uma tarefa fácil e foi uma tarefa envolta em diversos incidentes mais ou menos surreais que talvez não conheças. Partilhamo-los aqui:


1. A ideia para o filme

A ideia de fazer o filme surgiu em Amsterdão, quando o grupo vivia na ressaca do sucesso do filme "O Cálice Sagrado" de 1975. Todos eles tinham tido uma educação católica mas cada um à sua medida era crítico do catolicismo e das religiões em geral. A ideia de fazer um filme que parodiasse o Novo Testamento ganhou força por este altura.
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2. O primeiro título que não o era
Aborrecido com as sucessivas e repetitivas perguntas sobre qual seria o próximo projecto dos Monty Python, Eric Idle atirou o título "Jesus Cristo e o desejo de glória"/"Jesus Christ, the lust for glory" mas esse título nunca foi considerado para o filme, nem tão pouco a figura de Cristo seria visada no mesmo.
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3. O guião foi escrito em duas semanas

Para escrever o guião, o grupo isolou-se em Heron Bay, na ilha caraibenha de Barbados, durante duas semanas.
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4. John Cleese queria o papel principal mas o grupo opôs-se

John Cleese queria para si o papel de Brian mas o grupo era contra e o escolhido acabou por ser Graham Chapman. John Cleese acabou por interpretar -e muito bem- o papel de Reg, o líder esquerdista do movimento independentista Frente Popular da Judeia, assim como outros 5 papéis diferentes, incluíndo o de centurião romano e o de alto-sacerdote responsável pelo apedrejamento de blasfemos. Já Graham, para além de Brian, interpretou mais dois papéis, inclusive o do romano Bigus Dickus, numa das cenas mais hilariantes do filme.
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5. O projecto foi financiado pelo ex-Beatle George Harrison.

Aparição de George Harrison no filme.
Fonte: Yardbarker
Os Monty Python começaram por assinar contrato com a EMI Films, mas quando já estava tudo pronto para começarem as filmagens, Bernard Delfont, presidente da EMI leu finalmente o guião e vetou com veemência o projecto, considerando-o obsceno e sacrílego. "I will not have people saying that I'm making fun of f##### Jesus Christ" disse na altura Delfont. Assim, já com os cenários e toda a logística organizada, os Monty Python ficaram sem financiamento, valendo-lhes a intervenção do seu amigo ex-Beatle George Harrison que hipotecou a casa e o escritório que tinha em Londres para obter um empréstimo de 4 milhões de libras com que financiou o filme através do recém-criado estúdio Handmade Films. Como recompensa, George Harrison teve direito a uma aparição no filme enquanto figurante.
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6. A primeira cena foi gravada numa manhã

A primeira cena a ser gravada foi aquela em que o blasfemo Matias, filho de Deuterónimo de Gate, interpretado pelo falecido John Young, é apedrejado por um grupo de mulheres disfarçadas com barba. A cena foi inteiramente filmada numa manhã apenas.
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7. Actor e médico nas filmagens

Devido à sua formação, Graham Chapman foi também o médico de serviço durante as filmagens, socorrendo doentes e feridos que precisassem da sua atenção.
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Spike Milligan. Fonte: Pinterest
8. Spike Milligan, o actor que apareceu e desapareceu

O actor Spike Milligan encontrava-se na Tunísia visitando os campos de batalha onde tinha combatido durante a 2ª Guerra Mundial. Ao saber que os Monty Python por ali andavam, decidiu ir visitá-los e acabou por ser incluído no filme, interpretando um dos seguidores que perseguem Brian enquanto discutem sobre qual o símbolo da sua fé, se a sandália ou a cabaça. Após o almoço, quando pretendiam filmar grandes planos da personagem interpretada por Milligan, constataram que o actor pura e simplesmente tinha ido embora e, como nunca mais voltou, só as cena filmada durante a manhã foi incluída. 

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Terry Jones dá o exemplo.
Fonte: The Secret Life of Brian (2007)

9. Pilatos, Brian e 500 figurantes que não percebiam inglês

Na cena em que Pilatos pergunta à multidão quem deve ser libertado, nenhum dos cerca de 500 figurantes percebia inglês e a equipa de filmagens não sabia como fazê-los rir. Trouxeram então um comediante tunisino para contar piadas diante da multidão mas o resultado ficou bem aquém do esperado. Foi Terry Jones quem pediu a um intérprete que dissesse à multidão para repetir tudo o que ele fizesse. De seguida, atirou-se para o chão a rebolar a rir e toda a multidão o imitou, obtendo-se o efeito desejado. Segundo Terry, e para sua irritação, o melhor desempenho da multidão foi precisamente aquele que não foi filmado. 

"Always look at the bright side of life" - Fonte: Daily Mail


10. Terminar a cantar

Ninguém dos Monty Python sabia bem como terminar a cena final da crucificação. Foi Eric Idle que propôs que se terminasse com uma canção alegre e ele próprio a escreveu em apenas 20 minutos. "Always look at the bright side of life" continua ainda hoje no top 10 das canções mais tocadas em cerimónias fúnebres.
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Otto. Fonte: 9Gag

11. Otto o judeu-nazi censurado

Otto era um judeu-nazi com forte sotaque alemão e bigode estreito sob o nariz que envergava no capacete um símbolo que fundia uma estrela judaica com uma cruz suástica. Liderava um esquadrão suicida que procurava juntar-se ao líder que os haveria de guiar rumo à obtenção de uma comunidade judia racialmente pura. Nesta cena, os próprios Monty Python acharam que tinham ido longe demais e a participação de Otto e do seu esquadrão suicida acabou por ser reduzida a uma breve aparição em que todos se apresentam diante de Brian crucificado para se suicidarem. A cena pode ser vista aqui.

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12. Parte do Guião foi roubado e entregue a um grupo religioso

Quando o filme ainda estava em montagem, 11 páginas do guião foram roubadas por alguém da equipa de filmagens e entregues ao grupo religioso Festival da Luz, liderado por Mary Whitehouse. As páginas eram relativas à cena em que um ex-leproso curado por Cristo já não consegue ganhar a vida a pedir esmola e pragueja e amaldiçoa o Messias. A pressão exercida pelo grupo levou alguns municípios britânicos a proibir a exibição do filme.
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Protestos contra o filme. Fonte: The Vintage News

13. O filme que uniu as religiões em protesto

Após a sua estreia mundial em Nova Iorque, a 17 de Agosto de 1979, cristãos, tanto católicos como protestantes, e judeus uniram-se em manifestações públicas de protesto contra o filme. Os Monty Python ainda hoje se orgulham por terem conseguido unir religiões em prol de uma causa comum. Contudo, a primeira reacção de protesto foi protagonizada por um rabino de seu nome Abraham Hecht que apelidou o filme de blasfemo, sacrílego e incitador de violência. Uma das razões para a acusação de blasfémia era o uso indivíduo do xaile de orações pelo rabino da famosa cena do apedrejamento.

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14. O filme proibido
A exibição de A Vida de Brian foi proibida em vários países como a Irlanda, África do Sul e Noruega. Assim, eram muitos os noruegueses que iam assistir ao filme na vizinha Suécia onde este era promovido com o slogan "Este filme é tão engraçado que foi proibido na Noruega". No Reino Unido o filme foi proibido por várias autoridades locais e várias das proibições mantiveram-se até ao século XXI.

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Fonte: BBC

15. Um debate televisivo para a história

A polémica gerada em torno do filme foi tal que a BBC promoveu um debate televisivo a 9 de Novembro de 1979, com a participação dos Monty Python, representados por John Cleese e Michael Palin, e também de Mervin Stockwood, bispo de Southwark e Malcom Muggeridge do movimento religioso cristão fundamentalista Festival da Luz. Este debate marcou o primeiro grande debate público sobre os limites do humor e em alguns momentos, os comediantes não esconderam a sua irritação perante a obstinação dos seus adversários. O debate acabaria por ser parodiado apenas alguns dias depois no programa "Estas não são as notícias das 9" com Rowan Atkinson, o eterno "Mr Bean", a encarnar o papel de um bispo que realizara um filme sobre a vida de John Cleese, tendo este reagido com revolta por considerar o dito filme ofensivo para todos os fãs dos Monty Phyton. 



















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