Porque calaram Marine Le Pen?

0 minutos para Marine Le Pen na Web Summit de 2018
(Foto tirada daqui)

Afinal Marine le Pen já não vai participar na Web Summit 2018 como oradora. Isto acontece na sequência de toda a polémica que o anúncio do convite despoletou, com a organização SOS Racismo e o Bloco de Esquerda a consitituirem-se como as vozes de protesto mais sonantes, e o Governo português a reforçar que a responsabilidade do convite era toda da organização o evento.

Certo é que com ou sem pressão do Governo (que eu acredito que tenha havido), o convite foi mesmo retirado e Marine Le Pen já não estará presente na Web Summit 2018, levando a que tenham sido cometidas duas asneiras em vez de apenas uma

Em primeiro lugar, há que questionar o que fazia Le Pen como oradora no Web Summit visto que se trata de um evento que está ligado à Tecnologia, ao contrário por exemplo das TED Talks. Poderemos eventualmente supor que dá sempre jeito ter le Pen à mão para passar dados caso a rede Wireless falhe  mas, brincadeiras à parte, este evento tem-se sempre pautado por uma certa tendência para o mediatismo na escolha dos seus convidados. Lembrem-se que Nigel Farage foi orador em 2017 e não consta que seja grande especialista em tecnologia, sendo antes conhecido por ser muito bom em armar confusões épicas e depois fugir como se não fosse nada com ele. Que dizer também de Luís Figo e Ronaldinho?

Por outro lado, Le Pen advoga uma política de extrema-direita, na qual os nacionalistas e fascistas mais radicais se revêem totalmente. Ora, não sejamos anjinhos. Sabemos já, pelas lições de História, onde leva este caminho e temos de perceber porque é que a máxima "Fascismo nunca mais!" é mais que uma frase bonita que é moda usar por alturas do 25 de Abril, sabendo que em Portugal o fascismo foi apesar de tudo muito mais brando que noutras paragens da Europa. 

A Web Summit foi no mínimo infeliz ao convidá-la mostrando não perceber o que representa a ideia de fascismo em Portugal e, claramente, subestimou a onda de choque que o anúncio da sua vinda iria provocar. Queriam jogar com a polémica mas não esperavam que chegasse ao ponto a que chegou. 

No entanto, tinham toda a legitimidade em convidá-la para ela falar do que quisesse e certamente teria alguns fãs à sua espera, entre eles vários PNR's e saudosistas de Salazar, a quem o que fazia falta era terem realmente vivido o salazarismo. Em Portugal a Constituição proibe as organizações fascistas (pelos vistos excepto se por cosmética o nome referir "renovação" em vez de "fascismo") mas não proibe que se fale dele, contra ou a favor. É a ironia do princípio da liberdade de expressão. Dupla ironia se tivermos em conta a posição das correntes fascistas em relação à liberdade de expressão. 

Seja como for, feito o convite, não restava outra opção a Patrick Cosgrave senão assumir a responsabilidade do mesmo e mantê-lo. 

Tendo retirado o convite, a Web Summit fez de Marine Le Pen uma vítima e passou a ideia da existência de um certo nível de censura em Portugal. Se o tivesse mantido, teria sido uma excelente oportunidade para a maioria dos portugueses mostrar o que pensa do fascismo, boicotando a intervenção de Marine Le Pen ou manifestando-se contra ela, com todo o fôlego que os ventos de Abril permitissem. 

Comentários