Star Wars, o Despertar da Força mercantilista do blockbuster

Na semana passada fui até ao cinema para assistir ao último filme da saga Guerra das Estrelas, o Despertar da Força. Confesso que estava bastante curioso, não fosse eu um fã de longa data da série cujo entusiasmo se manteve apesar dos recentes 3 filmes da série terem sido assim um tanto fraquinhos. Pensei para comigo "O George Lucas esteve 16 anos sem pegar nisto, é natural que tenha ficado um bocado enferrujado", e de facto o último filme da "prequela" acabou por ser bastante melhor que os anteriores. Interpretei isto como um bom sinal e ignorei o facto de a Disney ter entretanto deitado as unhas à Lucasfilms.

Quando as luzes se apagaram e apareceu o título "Star Wars", acompanhado por aquela música apoteótica tão familiar e seguido pelo desenrolar do texto introdutório, até me arrepiei e o miúdo traquina que um dia fez da carreira de Jedi um plano de vida reavivou-se de novo em mim para pensar com os seus botões: "Isto até é capaz de correr bem", sem perceber que tinha acabado de assistir à parte mais consistente do filme.

O que se seguiu foi uma surpresa sombria: a produção tinha sucumbido à tentação do lado negro da Força mercantilista do blockbuster. Ao longo de 135 minutos, J.J.Abrams e sus muchachos seguem a mesma receita já vista em tempos recentes: sem coragem para inventar uma história nova decidem pegar em personagens novas para as enfiar à força numa embalagem narrativa cheia de clichés dos filmes anteriores, polvilhando a coisa com relações entre os novos protagonistas e os antigos.



Os diálogos são resumidos ao indispensável para manter um certo fio narrativo, dando às personagens um tratamento terrivelmente superficial. Há pessoas que desenvolvem uma relação de amor platónico só porque deram literalmente umas cambalhotas na areia mas o caso mais gritante é o de um casal separado que falhou estrondosamente no seu papel educativo, criando um filho que é um perfeito estupor choramingas, e que se reencontra após muitos anos tendo uma conversa em que a frase mais emotiva é "havia alturas em que me irritavas um bocado".

Imagem: Hitfix.com


E aquela do grande-mestre que se exilou, para expiar a sua culpa em solidão, mas que deixou um mapa dividido em dois bocados, sendo que a maior parte ficou enfiada num dróide deprimido?

Depois, para disfarçar a fragilidade narrativa, junta-se o ingrediente principal desta infame receita: cenas incessantes de acção, com velocidade vertiginosa, raios laser por todos os lados e explosões, muitas e grandes explosões.

Não contentes com isto tudo, Abrams e a sua trupe decidiram atacar os dogmas sagrados do conceito Star Wars, dando a entender que isso de se ser Jedi é uma coisa que afinal não exige anos de aprendizagem. Qualquer sucateira aprende os mistérios da Força em coisa de 10 minutos, sem se esforçar muito e qualquer funcionário de saneamento básico é tão hábil com um sabre de luz como com um desentupidor de sanitas.

É portanto um filme com uma narrativa fraca mas visualmente apelativo, que se recomenda a quem tiver alguma afinidade com a saga mas também a quem apeteça relaxar, no final de uma árdua jornada laboral, dando a oportunidade aos seus neurónios de usufruírem de 135 minutos de inactividade. Também é nítido que a Disney apostou grande parte das fichas no merchandising à volta do filme e que começou a ser disponibilizado muito antes da estreia, para desta forma criar interesse em relação ao filme. Basicamente aquilo que o McDonalds faz em relação aos happy meals: sem substância nenhuma e com a bonecada a ser o mais interessante do produto.

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