Postais da Caledónia - Quando os mortos "fugiam" das sepulturas

No decurso da nossa visita ao cemitério de Greyfriars, em Edimburgo (ver aqui), deparámo-nos com uma campa rasa, cuidadosamente protegida com uma grade de ferro maciço. Este tipo de protecções era uma prática corrente, não só Reino Unido mas como em vários países europeus, nos séculos XVIII e XIX e destinava-se a evitar que os cadáveres recém-enterrados fossem roubados por salteadores, para posterior venda às faculdades de medicina.



A grande procura era motivada pela escassez de corpos disponíveis para dissecação nas aulas de anatomia já que, até 1832, só os cadáveres de assassinos executados podiam ser usados para tal fim. À falta de corpos para dissecar, os anatomistas recorriam a "ressureccionistas", indivíduos que, a troco de dinheiro, invadiam os cemitérios para desenterrar e roubar os cadáveres.



As protecções de ferro como as da fotografia, assim como outras igualmente elaboradas, eram utilizadas por familiares dos defuntos com mais posses. Os mais pobres recorriam frequentemente à vigilância directa, que duraria o tempo tido como suficiente até o cadáver estar impróprio para ser usado nas aulas de anatomia.

Sendo uma actividade lucrativa, não tardou que surgissem "ressurreccionistas" mais empreendedores que produziam os seus próprios cadáveres para venda. Os mais famosos foram os senhores Burke e Hare que, em apenas 10 meses do ano de 1828, liquidaram 16 infelizes para depois venderem os seus cadáveres.

Finalmente, em 1832 e para pôr fim a esta prática, o Parlamento Britânico promulgou o Anatomy Act, uma lei que veio permitir a doação voluntária de corpos para efeitos de investigação.

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