Tourada no Fundão. Vai haver Sangue em Agosto


Já tinha ouvido boatos mas, não encontrando nada que os sustentasse, acabei por esquecê-los. A realização de uma tourada no Fundão era uma ideia descabida e estranha às tradições da cidade. Um evento desses não era compatível com a ideia de uma cidade que se quer modernizar, em equipamentos mas sobretudo em ideias, que quer mostrar ao exterior o seu desejo de evoluir e romper com conceitos obsoletos e estagnantes. Só podia ter sido um mal entendido.

Foi por isso que hoje, ao pegar pela primeira vez num folheto de divulgação do festival SangriAgosto 2013, fiquei estarrecido ao ler nele que os boatos afinal se confirmavam. O festival deste ano conta no seu programa com a "1ª Grande Corrida de Toiros", colocando o nome da cidade do Fundão no rol das localidades que promovem o degradante espectáculo de tortura para diversão dos espectadores (e para encher os bolsos de vários barões que só em 2011 obtiveram perto de 10M€ em subsídios estatais).

Aqui, no entanto, não há sustentação para o motivo fictício invariavelmente invocado de se estar a procurar manter a tradição, uma vez que o Fundão não tem tradição tauromáquica, sobrando aquilo que realmente move quem organiza as touradas: fazer dinheiro.

Hoje, pela primeira vez na vida, tenho vergonha em dizer que sou do Fundão, a  cidade que não se vergou à Inquisição mas cujas instituições acolhem agora, de braços abertos, esta prática retrógrada e sangrenta. Tenho de perguntar: como se enquadra no sistema de valores morais pelo qual se regem aqueles que aplaudem cada ferro cravado com êxito, a ideia de que é legítimo torturar animais por diversão e ainda vale a pena pagar para assistir a isso?

Como ética e moralmente não posso compactuar com eventos que promovam touradas, decidi este ano boicotar qualquer iniciativa ligada ao SangriAgosto (tascas, espectáculos musicais, etc..) e convido todos aqueles que não concordam com a realização desta tourada no Fundão a fazerem o mesmo. 

Nunca a sangria fez, como este ano, tamanho jus ao nome que tem e, sendo assim, causar-me-ia certamente severas perturbações gástricas.

ACTUALIZAÇÃO DE 25 DE JULHO:

Obtive junto de fonte oficial da Câmara Municipal do Fundão alguns esclarecimentos (importantes) sobre a realização desta aberração tauromáquica no Fundão que passo a sintetizar:

  • A organização do SangriAgosto é da exclusiva responsabilidade da Junta de Freguesia do Fundão e da Associação Comercial e Industrial do Concelho do Fundão.
  • A CMF é sim responsável pela organização do Festival Cale, o festival de artes de rua que ocorre em simultâneo com o SangriAgosto no fim-de-semana de 2, 3 e 4 de Agosto, sendo no entanto um evento distinto deste último.
  • Ao que foi possível apurar, esta tourada é da responsabilidade de um promotor público, não havendo quaisquer dinheiros públicos envolvidos na sua realização.
  • Até ao momento ainda não deu entrada na CMF qualquer pedido ou informação oficial sobre a realização desta tourada.

À luz disto (digo eu agora) é caso para perguntar:


No que estavam a pensar a Junta de Freguesia Fundão (Dar Fundão) e a ACICF quando deram o seu aval à realização de um evento sabendo à partida que este iria ser fracturante e provocar divisões no seio da população do Fundão, permitindo a sua inclusão no cartaz do SangriAgosto, evento que devia ser de agregação da população? A tourada pode ser promovida por um privado mas ao incluí-la no cartaz e ao dar-lhe o nome "SangriAgosto" é a cumplicidade com a sua realização que estão a assumir.


É lamentável senhor presidente da JF e senhor presidente da ACICF que por essa falta de visão tenham ferido duplamente de morte o SangriAgosto, quer pela fractura que provocaram na população, quer pela subversão do nome "Sangria" que, inevitavelmente, terá a partir de agora outra conotação.


Já agora, o que tem a ver uma tourada com a dinamização do centro antigo do Fundão? De que forma vai beneficiar o comércio tradicional do Fundão? Em que estratégia de promoção do nome do Fundão se insere esta iniciativa? 


São de facto questões às quais todos gostaríamos de ter respostas.



Comentários