Crónicas Canárias V - A caminho do Teide, o ponto mais elevado de Espanha!


A visita ao Parque Nacional del Teide, ou Parque Nacional de las Cañadas del Teide, foi sem dúvida e por vários motivos o ponto alto da estadia nas Canárias. Em primeiro lugar porque se tratou da nossa primeira visita a uma paisagem moldada pelo vulcanismo e onde este ainda está bem presente, porque o vulcão Teide, com 3718m de altitude, é o ponto mais elevado de Espanha e, last but not the least, porque esta visita nos permitiu passear por paisagens não raras vezes surreais, dando muitas vezes a impressão de estarmos noutro planeta; isto dito com a experiência própria de alguém que nunca esteve efectivamente noutro planeta mas que já visionou diversos filmes de ficção científica, nomeadamente o Total Recall original, todos os da série Star Trek e o documentário "Ainda há pastores".

A grande caldeira do Parque Nacional. À direita erguem-se o Pico do Teide e o Pico Velho, com a sua cratera. Foto: Viaje Jet


O Parque é constituído por uma gigantesca cratera situada a cerca de 2.000m de altitude, rodeada por uma cintura florestal de pinheiros, sendo que numa das suas extremidades se erguem dominantes o Pico do Teide e o Pico Velho. Dos dois, o Pico Velho foi o último a entrar em erupção.

Pico Viejo (à esquerda) e o Pico de Teide (à direita)

O Pico Velho entrou em erupção pela última vez em 1789. A erupção foi antecedida por 2 anos de intensa actividade sísmica até que, finalmente, o flanco da montanha explodiu, abrindo uma fenda de 700m (que hoje é conhecida como Nariz do Teide), da qual foram projectados gases e lava durante 3 meses.

Já o Teide terá entrado em erupção durante a Idade Média. Cristóvão Colombo, nos registos do seu diário durante a viagem que o haveria de levar à descoberta da América em 1492, descreveu uma erupção em Tenerife que muitos atribuem ao Teide. 

É fácil estabelecer uma cronologia de antiguidade para as escorrências de lava que preenchem a paisagem. As mais recentes caracterizam-se por ser mais escuras enquanto as mais antigas possuem tons castanhos.

O Pico Velho e, a preto, a lava libertada durante a erupção de 1789

O "Nariz do Teide" visto de frente

Como referi atrás, tanto o Pico Velho como o Pico do Teide estão situados no limite de uma enorme cratera, vestígio remanescente do gigantesco vulcão que outrora dominou o centro da ilha. Contudo, há cerca de 180.000 anos atrás, mais ou menos a época em que Portugal não estava em crise, parte deste enorme maciço rochoso colapsou devido à erosão e deslizou para o mar. Este deve ter sido um acontecimento geológico fantástico já que, associado ao colapso da montanha, a câmara magmática do vulcão terá explodido devido à súbita descompressão, isto para além do tsunami que este evento terá provocado. A parede da caldeira remanescente é inconfundível na paisagem do Parque, erguendo-se a centenas de metros de altura.

Formações magmáticas e, ao fundo, a parede da caldeira

Mais uma vez a parede da caldeira e, em primeiro plano, os picos ditos fonolíticos. Já lá iremos.

Quando chove, forma-se na parte baixa da caldeira um lago efémero que pode dura apenas alguns dias ou algumas semanas. É o chamado "Llano de Ucanca", a planície de Ucanca. Esta zona foi também uma zona de transumância uma vez que os aborígenes para aqui traziam sazonalmente os seus rebanhos de cabras e ovelhas sem lã, abrigando-se nos muitos abrigos e grutas das imediações. 

O Llano de Ucanca e os vestígios sedimentares do lago efémero

Sim, exacto, é a parede da caldeira

Não sei se identificaram mas lá ao fundo avista-se a parede da caldeira. Ao meio avistamos uma antiga escorrência de lava e, em primeiro plano, um grande monte de piroclastos


Vista da parte superior da caldeira a partir da estação de base do teleférico que leva ao topo do Teide


O limite de uma das escorrências de lava mais recentes mas agora de mais perto


Algumas das formações mais características desta enorme cratera são os chamados picos fonolíticos, curiosas formações rochosas abruptas que parecem por vezes desafiar a gravidade.




Estes picos, que no caso do conhecido como "A Catedral" chega a ter 100m de altura, são os últimos vestígios de antigas chaminés vulcânicas, dentro das quais a lava arrefeceu e solidificou. A erosão desgastou os cones, constituídos por materiais menos resistentes, deixando à vista as colunas de lava solidificada. Como os materiais e condições ambientais de solidificação foram diferentes, estas colunas acabam por ser constituídas por camadas de diferentes cores e resistência, o que lhes confere um aspecto muito peculiar.

Os picos fonolíticos conhecidos como Roques de Garcia são a fronteira entre a zona mais baixa e a zona mais alta da grande cratera do Parque.

Alguns picos com as diferentes camadas de materiais bem evidentes

Roques de Garcia, agora de perfil

O pico fonolítico mais emblemático do grupo. A base é constituída por material menos resistente e, como tal, a erosão teve nela mais efeito

Outra das zonas mais interessantes (entre tantas) do espaço da grande cratera é a zona conhecida como Los Azulejos onde uma série de alterações hidrotermais conferiu um colorido muito característico às rochas, que vai do verde ao azul, passando pelo amarelo. A ilita e a caleonita são os minerais responsáveis pelas cores mais claras da "palete". Sinceramente, não faço ideia do que sejam estes minerais e estou apenas a reproduzir a informação constante do painel informativo no local só para impressionar.

Los Azulejos!



Junto aos Roques de Garcia encontra-se a pequena ermida de Nossa Senhora das Neves ou de Santa Maria Maior, o templo cristão espanhol situado a maior altitude, construída nos anos 1950/60 juntamente com o vizinho Hotel Parador. A título de serviço público, informo aqui que na ermida se celebra a santa missa todos os Domingos e dias festivos pelas 13h00.


 
A ermida de Nossa Senhora das Neves, na qual se celebra missa todos os Domingos e dias festivos pelas 13h00

A vegetação existente na cratera do Parque é claramente influenciada pela altitude a que esta se encontra, sendo exclusivamente rasteira ou arbustiva. Uma das plantas mais características deste espaço é o Tajinaste Rojo, Echium Wildpretii para os amigos.

Quando chega a Primavera e floresce, esta planta que permanece até aí rasteira, desenvolve uma estaca que pode crescer até 2m. No final da floração, esta estaca seca, deixando um "esqueleto" que pode durar vários anos. 

A seguir: A subida ao Teide!

Foto aérea: Viaje Jet

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