Natal não é Natal se não houver Madeiro

Imaginem uma planície negra que se estende sob um céu estrelado, avistando-se, aqui e ali, um ponto de luz ténue da qual se escapa uma coluna de fumo. É noite de Natal e o madeiro já arde, marcando no pano opaco da noite, anos antes da chegada da electricidade e ao som dos sinos, as localidades que se espraiam pela Cova da Beira. Era assim há cerca de meio século atrás, não apenas na Cova da Beira, mas em todas as localidades da Beira Interior.

Uma semana ou duas antes do Natal, os jovens que mais tarde iriam “às sortes”, carregavam troncos de árvores (dados ou roubados) em carros de bois, amontoando-os depois geralmente junto à igreja ou capela da povoação. Nas localidades de maior dimensão havia até vários madeiros, transpondo a rivalidade natural entre aldeias para os bairros.

Na noite de Natal, à entrada da Missa do Galo, o madeiro já ardia aquecendo quem chegava. Após a missa, o Madeiro tornava-se o centro de convívio das povoações. As pessoas concentravam-se ali, contribuindo com aquilo que pudessem, fosse um naco de presunto, enchidos, pão ou outra coisa qualquer (as brasas provavam a sua utilidade), não faltando o vinho ou a jeropiga não fosse o calor da fogueira ser insuficiente para aquecer quem ali estivesse, até porque a manhã ainda vinha longe.

Espontaneamente, soltavam-se os cânticos em honra do Deus-menino vindo mais uma vez ao Mundo, ou as risadas pelas anedotas de uns ou pela descoordenação de outros que já tinham começado os festejos mais cedo. O Madeiro era calor, era vida, era Natal.

Hoje em dia, a tradição ainda persiste, excepto naquelas pequenas aldeias onde já não há vigor de braços para carregar troncos. O espírito, contudo, já não é o mesmo. Continua a ser inevitável e obrigatório ir até à fogueira na noite de Natal, onde o calor faz esquecer que é Inverno e que ali a 2 passos a temperatura anda perto do zero, mas os cânticos soam envergonhados.

Seja como for, ali está ainda uma réstia da magia do Natal, aquela magia que não se encontra nas filas infindáveis dos centros comerciais nem nos concursos para a prenda mais cara que se organizam à volta da colorida árvore de PVC.

Madeiro do Alcaide

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Madeiro do Carvalhal

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Madeiro das Donas

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Madeiro da Fatela

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Madeiro do Fundão

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