100 anos de República - Porque é que estamos a comemorar o centenário da República?

Comemora-se hoje o centenário da implantação da República em Portugal. Por todo o país, assistimos a celebrações com maior ou menor fausto, nas quais, subitamente, a República é apresentada como o factor motriz de todas as benesses do país.

Por esse prisma, muito contentes andarão os iranianos, os venezuelanos, os chineses, enfim... todos aqueles que têm há já algum tempo um governo republicano solidamente implantado, ao contrário de outros, como os holandeses e os britânicos, que vivem imersos numa profunda frustração por terem experimentado a República de forma efémera ou ainda outros, como a Suécia, que não a experimentaram de todo.

Para o cidadão comum, a diferença entre viver em Monarquia ou viver em República será semelhante à diferença entre escolher uma Coca-cola ou uma Pepsi no café da esquina. Bebe-se aquilo que houver e quem lucra é sempre o dono do café.


Postal de época invocando a polémica da escolha de uma nova bandeira. De um lado, Guerra Junqueiro que defendida a manutenção das cores históricas da bandeira. Do outro, os republicanos iconoclastas que, indiferentes à regras elementares de heráldica, defendiam uma bandeira de fazer inveja a muitas nações africanas. Quem acompanhou com atenção os jogos da Selecção Nacional de Futebol saberá quem ganhou esta luta.

Esta proliferação de comemorações, interrompidas aqui e ali por algumas acções de contestação em diferentes patamares de originalidade, parece estar a contribuir para a deseducação nacional, ajudando a confundir Democracia com República. Por outro lado, com tanta bandeira e tanta gente a cantar o hino, muitos cidadãos terão sido induzidos em erro, tendo sofrido uma grande desilusão quando constataram que a Selecção Nacional de Futebol afinal não jogava hoje.

Verdade seja dita, o 5 de Outubro de 1910 deu início a um dos períodos mais negros da História de Portugal, com um caos social, político e económico sem precedentes e, como se não bastasse, ainda se fez questão de envolver Portugal na 1ª Guerra Mundial. Este primeiro ensaio republicado chegaria ao fim através de um golpe militar encabeçado por um general que, depois de tomar o poder, não fazia a mínima ideia do que fazer a seguir. Acabou por abrir caminho ao estabelecimento de uma ditadura que haveria de durar até 1974 mas que teve pelo menos o condão de vir pôr alguma ordem na casa. Pena foi o facto de o seu prazo de validade ter expirado e de não se ter apercebido disso.


A famosa comissão de escolha da nova bandeira, diante de um exemplar acabado.

100 anos depois é bom ver que, pelo menos pontualmente, existe clarividência na classe política ao contrário do que acontecia em 1910. As declarações de Sócrates, ao apresentar-se como herdeiro da 1ª República, não poderiam ser mais exactas. Os republicanos de 1ª geração, estejam onde estiverem, devem estar verdadeiramente orgulhosos de tão digno herdeiro!

Seja como for, agora que a febre comemorativa republicana lentamente se dissipa, tenho obviamente de perguntar: quem vai pagar a despesa da festa? Os submarinos?



Agradeço ao meu muito estimado Sr. João Barroca pela cedência do postal e da revista Ilustração Portugueza nº 231 de 12 de Dezembro de 1910 da qual foi retirada a fotografia acima.

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