A derrocada da Praia Maria Luísa ou a exaltação da estupidez

A grande notícia do momento é sem dúvida a da derrocada ocorrida na passada sexta-feira na praia Maria Luísa, em Albufeira, e que vitimou 5 pessoas, deixando ainda feridas outras 3.

Em primeiro lugar este drama acontece pelo completo desprezo das regras elementares de segurança por parte dos banhistas que ignoraram os vários avisos de perigo. Por outro lado, as poucas vedações que foram sendo colocadas nesta e noutras praias terão sido simplesmente destruídas por aqueles que procuravam aceder à praia.

Adicionalmente, também não se compreende como é que, perante sinais de aviso, as pessoas foram instalar-se junto à arriba. Uma banhista da Covilhã aliás, relatou ao Correio da Manhã que o seu marido tinha, à chegada à praia, colocado a toalha exactamente junto da parede rochosa onde se deu a derrocada. Só por insistência da senhora, desconfiada com a proximidade e alarmada pelo risco, tinham mudado depois de local.

Outros infelizmente, não agiram assim, com as consequências que se conhecem. Curioso o comentário de um banhista que comentou noutra praia, relativamente aos sinais de perigo e ao ter conhecimento da tragédia: "Eu pensava que a sinalética se referia só à queda de pedras e não da arriba"...

Este é contudo um problema já de longa data do Algarve (será que um ministro chico-esperto se vai agora lembrar de lhe chamar Fallgarve?). A natural erosão da costa, aliada à actividade sísmica regular e à construção desenfreada em zonas de risco, já tida como tão tradicional na região como os maranhos na Beira Baixa, contribuem para o acelerar da degradação da costa e só por milagre apenas agora aconteceu um acidente desta magnitude. Onde andam e o que fazem as autoridades em relação a isto? Se a relação causa-efeito está já há muito estabelecida, porque é que ninguém toma medidas? E se a praia era uma das praias em risco de derrocada, porque é que fica a sensação que, ainda assim, poderia ter sido feito algo mais do que a colocação de sinais de aviso e fitas de plástico?






O fascínio mórbido pelo sensacionalismo

Como sempre acontece nas mais diversas ocorrências trágicas, também a praia Maria Luísa foi palco de uma extraordinária manifestação de fascínio mórbido pelo sensacionalismo. Inúmeras pessoas dirigiram-se durante o fim-de-semana ao local em romaria (não encontrei termo melhor que este) para assistir aos trabalhos de resgate dos cadáveres e de remoção das rochas.

Entre um anónimo que deixou no local um ramo de flores de bungavília e diversas pessoas que fotografavam tudo o que era pedra, a SIC descobriu uma iluminada que decidiu levar -imagine-se- uma pedra como recordação porque, segundo ela, "a pedra tem valor" e era para ela nunca se esquecer porque "era de Guimarães". Confesso que nunca tinha visto ninguém dar uma entrevista com o cérebro na mão...

Mas claro, também não convém esquecer que, uma prova de inteligência colectiva é uma multidão encher uma praia na qual acabou de acontecer uma derrocada e onde a arriba pode estar comprometida, com o risco de mais desabamentos.



Deve ser definitivamente algo na água calcária do Algarve que leva as pessoas a tomar este tipo de atitudes e querer mostrar ao país a dimensão do conceito de ridículo. Só pode! Quem não se lembra, por exemplo, do caso da "onda gigante" de 1999? Um banco de neblina semelhante a uma onda formou-se no horizonte, levando a diversos alertas de aproximação de uma onda de 25 metros e à tentativa de evacuação das praias na zona de Albufeira. Digo tentativa porque, aqueles que levaram o aviso a sério, saíram do areal e ficaram a poucos metros à espera da onda. Perante a curiosidade dos jornalistas, um dos "iluminados" respondeu algo como "Então... disseram que vem aí uma onda gigante! Estamos aqui a ver se a vemos."




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