Comemora-se hoje o 72º aniversário da libertação do campo de morte de Auschwitz pelas tropas soviéticas, data que foi escolhida pela ONU como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto".
É chocante verificar que hoje em dia, apesar do esmagador peso das evidências, quem queira apagar ou negar esta que foi uma das maiores atrocidades da História, e é por isso que é importante evocar neste dia a memória das suas vítimas. Não foi o único acto continuado de barbárie cometido durante a última Guerra Mundial, é verdade, e nem todos os seus responsáveis foram julgados como mereciam, pois até do lado dos vencedores houve criminosos de guerra que escaparam incólumes.
Por vezes é difícil sentir o peso deste episódio negro da Humanidade, sobretudo quando as pessoas desaparecidas se tornam vulgares números sem rosto, nas páginas de um livro de história. É difícil imaginar que essas vítimas foram pessoas absolutamente normais, com família, casas, empregos, sonhos e inquietações, que foram sacrificados em nome do irracional, tornados bodes expiatórios dos males das nações. Todos terão morrido com a mesma pergunta em mente: "Porquê?".
Recentemente, estive em Amesterdão e aproveitei para visitar o museu Anne Frank, talvez a mais célebre vítima do Holocausto apesar de nada ter que a distinga de todas as outras. Ao percorrer aquelas escadarias e entrar no Anexo Secreto, a secção da casa que se escondia para lá de uma porta dissimulada por uma estante com livros, e ao perceber que aquele espaço exíguo acolheu 8 pessoas durante mais de 2 anos sem nunca terem saído à rua, é impossível não sentir o peso da realidade. Isso e um enorme vazio, tão vazio como aquelas divisões que assim foram deixadas pelos nazis na sua rusga fatal.
O acesso ao Anexo Secreto, na casa de Anne Frank
Em 2005, por mero acaso, tive a oportunidade de jantar com uma sobrevivente judia da II Guerra Mundial. À medida que a conversa decorria, fiquei a conhecer a sua história e a forma como tinha conseguido escapar à perseguição: escondida no sótão de pessoas amigas. Isto em Lyon, território de "caça" do infame Klaus Barbie, a quem a História garantiu o cognome de "O Carniceiro".
- "E o resto da sua família?", perguntei eu. -"Não estavam escondidos consigo?"
Baixou os olhos para o prato e respondeu num tom mais baixo: -"Não. A minha família saiu em fumo pelas chaminés dos campos de concentração."
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