Parece que desta vez Nelson Mandela morreu mesmo



Depois de um primeiro ameaço há uns meses atrás, que levou à publicação do obituário em órgãos de comunicação social, a luz de Nelson Mandela apagou-se ontem de vez. Não fiquei mais triste ontem do que fiquei quando ele se retirou da vida pública em 2004. Aí sim, fechou-se a era de Mandela, uma das figuras mais inspiradoras da minha relativa curta existência, de tal forma que, se me lembro perfeitamente onde e com quem estava no momento em que soube do embate dos aviões nas torres gémeas e do momento em que soube da queda do muro de Berlim, também isso acontece com o momento em que vi o casal Mandela caminhar de mão dada rumo à liberdade, à frente de uma multidão

É evidente que não havendo santos, Mandela também não o seria, teve no entanto o fantástico condão de ser conciliador como ninguém quando a hora chegou. Deixou de lado qualquer ressentimento que pudesse ter por ter passado 26 anos da sua vida em cativeiro - que coragem foi preciso ter!-, e com isso limpou uma das nódoas mais vergonhosas do século XX, que por sinal foi apoiada até para além do limite do razoável pelos EUA e Reino Unido, com Portugal a aparecer também nessa história, como a pequena rémora nas costas dos dois grandes "tubarões".

Por duas vezes Portugal alinhou declaradamente com o Apartheid. A primeira em 1987, quando votou contra a aprovação de uma moção nas Nações Unidas pedindo a incondicional libertação de Mandela e a segunda em 1989, quando votou contra a aprovação de medidas em prol das crianças vítimas da mesma política de segregação racial. Nada que tenha impedido o Sr Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, na altura Primeiro-Ministro, de vir manifestar o seu profundo pesar pela perda de quem  cujo "exemplo de coragem política, a sua estatura moral e a confiança que depositava na capacidade de reconciliação constituem verdadeiras lições de humanidade." considerando ainda que o prémio Nobel e a eleição para presidente da África do Sul foi um  "simbolizaram o merecido reconhecimento de um político de causas e uma vitória para os Direitos Humanos no mundo" (sic). Prefiro pensar que não haverá aqui hipocrisia e que Nelson Mandela conseguiu até mudar as convicções daquele que disse um dia que "raramente se enganava e nunca tinha dúvidas".

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