O paquistanês que torce por Portugal

Durante o último campeonato do Mundo de futebol, que decorreu na África do Sul em 2010 (Portugal iria jogar daí a uns dias contra o Brasil) , um trabalho levou-me a viajar até Castelo Branco. Recordo-me que nesse dia estava um calor infernal, algo parecido com o de hoje, pelo que parei na área de serviço antes da cidade para comprar uma água.


Quando me preparava para sair, detive-me por instantes a bebericar a água diante da televisão, que transmitia, creio eu, um jogo no qual participava a Inglaterra ou os EUA. Nisto, entram alguns indivíduos que, pela roupa e pela tez, presumi serem provavelmente de origem indiana. O mais velho ficou perto de mim também a acompanhar os últimos minutos do jogo, enquanto os outros continuaram para o balcão.


A certa altura, o que tinha ficado ao meu lado, dirigiu-me espontâneamente a palavra 


-"Vem aí um grande jogo! Espero que Portugal ganhe. Incha'alla! Tenho pedido a Alá para que Portugal ganhe!". 


-"De onde é?", perguntei eu. 


Afinal, fiquei a saber que o meu circunstancial interlocutor era paquistanês. É claro que achei curiosíssimo o facto de um imigrante, vindo de um país onde o futebol tem pouca expressão, provavelmente tendo experimentado alguma resistência da comunidade local por ser estrangeiro e, ainda por cima, por ser muçulmano, estar a torcer daquela maneira por Portugal.


A conversa desenrolou-se e fiquei a saber que ele tinha vindo para o nosso país para trabalhar na construção civil havia já seis anos.


-"Seis anos?", comentei. "Oh, então já é praticamente português!"


Em acto contínuo, na cara dele desenhou-se um sorriso rasgado. Colocou a mão sobre o meu ombro e disse um "Obrigado!", profundamente sentido.


Hoje, na iminência do jogo entre Portugal e Espanha para o campeonato da Europa de futebol, lembrei-me deste episódio. Pergunto-me se ele terá hoje pedido novamente a Alá a vitória de Portugal. Estou a torcer para que sim. "Futebóis" à parte.

Comentários