Férias 2010, parte 8 – Como fazer de uma fortaleza uma atracção turística de referência

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A Cidadela de Besançon é uma das 12 fortalezas francesas reformuladas por Vauban, engenheiro militar de eleição de Luís XIV, que actualmente estão classificadas pela UNESCO como Património da Humanidade.

Situada numa posição estratégica invulgar – numa forte elevação que ao mesmo tempo é um istmo num círculo quase perfeito do trajecto do rio Doubs, o Monte Saint-Étienne, constituiu durante 4 séculos o ferrolho da defesa da cidade de Besançon, sendo ainda coadjuvado por 2 fortes menores construídos nos montes adjacentes, na outra margem do rio.

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A cidade começou a ser fortificada por Vauban em 1668, aquando da primeira conquista da região pelos franceses. Devolvida à coroa espanhola, seria definitivamente anexada pela França, tornando-se Besançon uma importante praça de fronteira. Foram necessários 30 anos para construir não só a Cidadela, que se estende por 11 hectares e chegando a possuir muros de 20m de altura e 6m de espessura, mas também todo o conjunto de fortificações da cidade.

Albergando guarnições e inclusive uma escola de cadetes, viria durante o séc. XIX e até 1947 a servir de prisão do estado. Os últimos combates a que assistiu ocorreram em 1944 quando os americanos a conquistaram aos Nazis. Foram estes últimos, aliás, que marcaram os últimos episódios sombrios da história da Cidadela quando se serviram do forte para aprisionar e torturar cidadãos e resistentes, tendo aqui executado cerca de uma centena de pessoas por fuzilamento.

Um memorial, cujo elemento em destaque são os 4 postes de fuzilamento, situado junto ao poço fortificado, evoca a recordação das vítimas da barbárie.

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Tendo sido adquirida ao exército pela cidade em 1959, depressa se formularam planos para fazer desta fortaleza algo mais que um um conjunto arquitectónico militar de referência, procurando fazer dela um sítio turístico de referência.

Actualmente, é possível passar um dia inteiro dentro da Cidadela, encontrando aí 4 museus permanentes, para além de exposições temporárias, assim como alguns estabelecimentos de restauração, sendo que um deles me fica na memória devido a um infeliz incidente envolvendo queijo... Isto sem contar com o circuito das muralhas que, em muitos troços, é de cortar a respiração.

 

Assim, é possível visitar:

O Museu da Resistência e da Deportação

Museu que, ao longo de 20 salas, nos evoca a ascensão do nazismo na Alemanha e os horrores que se lhe seguiram. Evoca ainda a realidade vivida em França durante a Ocupação e os horrores da Deportação. Algumas das salas são verdadeiramente chocantes, não sendo recomendáveis a crianças ou pessoas impressionáveis.

Garanto que se trata de uma visita difícil de esquecer.

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Museum

Agrega o Museu da Evolução e História Natural para além de:

Jardim Zoológico

Com inúmeros exemplares do Mundo Animal, desde tigres e leões até espécies mais comuns da fauna local, sendo ainda possível visitar o espaço da “Pequena Quinta” onde se caminha entre coelhos, galinhas, cabras, entre outros. Aliás, relativamente aos caprinos, é interessante verificar que algumas andam à solta pelas muralhas mostrando que, se problemas têm, as vertigens não são certamente um deles.

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Aquário

Com diversos tanques contendo espécies sobretudo do grande rio Ródano, nas suas várias etapas, para além de tanques exteriores onde, especialmente para delícia dos mais novos, os visitantes são encorajados a acariciar os peixes que não se mostram minimamente incomodados com isso.

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Insectário

Aqui encontra-se uma miríade de insectos, dos mais comuns aos mais exóticos.

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Noctário

Um espaço curioso onde, ao entrar, o visitante entra num fuso horário completamente diferente, mergulhado na penumbra e em silêncio (cortado apesar de tudo por alguns gritos histéricos de visitantes), podendo observar roedores de hábitos nocturnos. Tudo isto em diferentes cenários, desde as quintas, passando pelas cozinhas e pelos esgotos, por exemplo.
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Para aprender algo mais sobre as tradições da região da Franche-Comté, é indispensável uma visita ao Musée Comtois, onde todos os aspectos da vida rural dos seus habitantes são referidos, desde os utensílios ao trabalho, passando pela religião e pela alimentação.

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Não se pode esquecer também a exposição do Espaço Vauban que evoca a obra deste génio militar, cujos serviços eram inestimáveis quer na construção de fortificações, quer em operações de cerco, tendo inclusive realizado e publicado alguns estudos sobre esta matéria.

O lado menos conhecido de Vauban era a sua faceta social e reformadora que levou, por exemplo, a que fosse proscrito na fase final da sua vida pelo próprio Luís XIV, por ter publicado uma obra na qual denunciava a injustiça social que eram os impostos sobre produtos de primeira necessidade, sugerindo ainda a criação de um imposto na forma de um dízimo ao qual estariam sujeitos todos os escalões sociais, desde o povo à Coroa.

Para terminar, fica uma foto obtida numa exposição temporária dedicada a… caixões! Contudo, não se tratam de caixões “normais” mas de invulgares invólucros em uso no Gana e no Reino Unido que evocam aquilo que os defuntos foram em vida ou, simplesmente, que tenham sido escolhidos antecipadamente pelos seus ocupantes.

Eis portanto uma fotografia mostrando um caixão em forma de Mercedes Benz, outro em forma de aeronave das linhas aéreas do Gana (será ironia do moribundo conhecendo-se a fiabilidade das transportadoras africanas?) e, last but not the least, um singularíssimo caixão em forma de saca-rolhas que cumpriu a sua missão. Destinar-se-ia a um produtor de vinho ou a um singular apreciador? Fica a dúvida.

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A ver:

Site Oficial da Cidadela
As Fortificações de Vauban

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