O elogio de Hitler, por Bernie Ecclestone

"Adolf Hitler sabia fazer as coisas e estava em posição de poder que lhe permitia ter tudo feito conforme pretendia., embora em determinado momento possa ter sido influenciado, e daí resultando coisas que não sei se queria fazer. No fim, acabou por perder-se e não foi um bom ditador, pois ou sabia o que sucedia à sua volta e insistiu nessa via, ou transigiu. Seja como for, não se portou como um ditador".

Foram estas a declarações de Bernie Ecclestone, "patrão" da Fórmula 1, ao The Times que provocaram enorme polémica, tendo merecido a condenação de várias partes, inclusive da comunidade judaica, perante o elogio de Hitler, uma das figuras mais sombrias da História da Humanidade, criando ao mesmo tempo o conceito interessante de "bom ditador". Realmente se nos abstivermos do facto de Hitler ser psicopata, maníaco e paranóico, para além de ter tido uma série de recalcamentos traumáticos que moldaram a sua personalidade e de haver suspeitas que tudo isto era agravado por ser fruto de uma relação de consanguinidade, realmente até nem era má pessoa e o genocídio que praticou foi um mero detalhe que em nada belisca a sua figura.

Tendo este discurso em consideração juntamente com os conflitos que colocaram a Fórmula 1 nos últimos tempos em completa ebulição, começo a achar que Ecclestone veria com bons olhos a pacificação deste... desporto(?) com recurso a uma reunião de todos os dissidentes numa garagem bem fechadinha, na qual se colocariam em simultâneo vários bólides em funcionamento para testar as taxas de emissão de CO2.

Contudo, Ecclestone não se ficou por aqui e de Hitler passou a Saddam Hussein:

"Era o único que poderia controlar aquele país. Nós invadimos países sem nada saber a respeito da sua cultura. Há pessoas a morrer à fome em África e nada se faz, mas, em compensação, há intromissão em assuntos que não nos dizem respeito."

Aqui contudo, sou obrigado a dar-lhe razão, na segunda parte da afirmação, pois é bem verdade que o mundo Ocidental, com os EUA à proa, têm mostrado mais preocupação com as causas humanitárias que ocorrem na proximidade de poços de petróleo, do que com aquelas que ocorrem onde não há qualquer tipo de recursos, inclusive alimentos ou água. Ainda assim, fica aqui outro elogio sinistro a uma figura ainda mais sinistra, cuja noção de concórdia passava por actos tão originais como o de gasear o Curdistão iraquiano para ter a certeza que todos concordavam com ele (todos menos os 100.000 a 180.000 curdos que "desapareceram").

Para rematar, Ecclestone elogiou Max Mosley, o presidente da Federação Internacional de Automobilismo, dizendo que este daria um bom primeiro-ministro. Ainda pensei que Max Mosley fosse ficar preocupado com a inclusão do seu nome neste rol de elogios mas depois percebi que, se calhar, há aqui um padrão natural e cronológico (chamem-me paranóico e adepto das teorias de conspiração se quiserem).

Acontece que Max Mosley é membro de uma família com um passado muito peculiar. Basta dizer que o pai dele, Oswald Mosley era líder da União Britânica de Fascistas e tanto ele como a sua esposa tinham uma relação estreita com Hitler. Aliás, o próprio casamento de Oswald Mosley e Diana Mitford aconteceu na Alemanha em casa de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda do Reich, tendo Hitler marcado presença como convidado de honra. As actividades e ligações do casal levaram mesmo à sua prisão em Inglaterra durante a II Guerra Mundial e até 1947.

Por outro lado, Max Mosley viu-se recentemente envolvido num escândalo sexual, ao ser divulgado um vídeo que mostra o Presidente da FIA envolvido em traquinices com um grupo de prostitutas, uma vestidas como guardas e outras vestidas como prisioneiras, simulando abusos num campo de concentração Nazi.

Parece-me que Ecclestone pode pois ser consideração extremista mas, diga-se em abono da verdade, pelo menos mantém a coerência mesmo quando evidencia sinais indisfarçáveis de senilidade. Há no fundo outro alemão a deixá-lo confuso: o Sr Alzheimer.


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