Encontros imediatos...

Normalmente, quando alguém nos aborda inesperadamente, aquilo que instintivamente esperamos é ser questionados sobre onde se encontra determinado local e qual a melhor estrada para lá chegar, sobre que horas são ou ainda, como tem acontecido de forma crescente nos últimos tempos, sobre a importância de cedermos a nossa carteira e/ou telemóvel rapidamente e sem incorrermos no erro de recorrer ao contraditório.

Ontem, pela hora de almoço, dirigi-me ao Vivaci-Guarda para comer qualquer coisa antes de atacar a tarde quando, subitamente, fui abordado por um indivíduo com cerca de 50 anos, cabeça guarnecida com um chapéu de pano branco, camisa desabotoada e desfraldada por cima das calças brancas e calçando uma espécie de mocassins.

Suspeitei ao início que o homem tivesse urgência em pedir-me alguma coisa, afinal, veio ter comigo, ao cimo das escadas rolantes descendentes, a correr e repetindo de forma bem audível "Oh amigo! Oh amigo!".

No entanto, e para minha surpresa, descobri afinal que o indivíduo não queria pedir-me nada mas sim partilhar informação comigo. Eis o diágolo surreal que se seguiu:

Indíviduo Tomado Pelo Impulso De Partilha: "Oh amigo, você sabia que quando os franceses nos invadiram, fomos atacados por um homem que se chamava O Maneta? (voz de entusiasmo)"

Eu "Ah sim?..."

ITPIDP: "Não sabia, pois não? Mas foi, chamavam-lhe o Maneta. O Napoleão veio cá meter-se connosco (voz de amargura)..."

Eu "Pois foi..."

ITPIDP: "Mas olhe que o Napoleão não era mais que nós. Levou uma sova em Aljubarrota! A Padeira sozinha chegou para eles! (novamente voz de entusiasmo)"

Eu "Oh diabo! E eu convencido que tinham sido os espanhóis!"

ITPIDP: (gargalhada) "Eu acabei agora de ler um romance sobre essa guerra! (voz de confiança absoluta)"

Eu "..."

ITPIDP: "Bom oh amigo, boa tarde então! Saúde para si! (voz de entusiasmo novamente)"

Eu "Obrigado e igualmente".

E la foi o indivíduo abordar jovialmente um grupo de senhoras que se encontrava ali ao lado, interrompendo a conversa que estas empreendiam.

Não fosse pela ausência de sotaque estrangeiro e eu diria que tinha acabado de ser abordado pelo Eugene, o bacano.(que entretanto bem poderia ter aprendido a falar português telepaticamente com o espírito do Maneta em tertúlia numa esplanada de café com a Brites de Almeida).


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