200º aniversário do Massacre de Alpedrinha


Assinalou-se ontem o 200º aniversário do massacre de Alpedrinha perpetrado pelo exército francês no qual pereceram cerca de 30 habitantes após um combate desigual. Para assinalar esta data que tristemente inscreveu de forma indelével nos anais da história da Guerra Peninsular, o nome da vila que por muitos é chamada de "Sintra da Beira", a Junta de Freguesia local organizou um conjunto de iniciativas ao longo do dia.

Assim, foi descerrado um memorial com o nome das vítimas após o que se seguiu uma missa no adro da Igreja, junto às sepulturas de alguns daqueles que têm o seu nome inscrito no monumento e que descansam no adro da Igreja.

A culminar a iniciativa assistiu-se a uma interessantíssima conferência, proferida pela escritora Antonieta Garcia, e que contextualizou o episódio de Alpedrinha no período das Invasões Francesas. Apesar de, pessoalmente, manifestar alguma discordância num ou noutro ponto com as palavras da oradora, o que é certo é que no geral foi sem dúvida uma conferência interessantíssima e que justificou bem a ida a Alpedrinha. Estou aliás ansioso pelo lançamento do livro.

Sobre o Massacre

De forma resumida, o Massacre de Alpedrinha situa-se num período em que o país se começa a sublevar contra o domínio francês decorrente da dita 1ª invasão, a que alguns autores atribuem a ordinalidade de 2ª invasão num total de 4. Corria o ano de 1908.

A própria conjuntura se revelara favorável ao aparecimento de grupos de guerrilha e também da sublevação das povoações, com a retirada das tropas espanholas que ocupavam o Sul de Portugal, na sequência dos acontecimentos do "Dos de Mayo", chamadas pelas recém criadas Juntas Revolucionárias de Espanha. As tropas francesas foram assim obrigadas a espalhar-se pelo país o que as enfraqueceu. O mês de Junho então foi particularmente crítico com a sublevação das grandes cidades no Norte de Portugal com destaque para o Porto que, a 19 de Junho, aclama a Dinastia de Brangança.

Para subjugar a revolta, Junot, que então governava (cada vez menos) o país a partir de Sintra, ordena ao temível general Loison que vá buscar reforços a Almeida para depois marchar sobre o Norte de Portugal. Contudo, o Maneta apenas consegue chegar à região de Mesão Frio onde é travado pela guerrilha e forçado a retirar para Almeida. Aí, recebe ordens para voltar a Lisboa, onde se estão a concentrar todas as tropas francesas. É nesta altura que se dá o episódio de Alpedrinha.

Ao atravessar a Beira, Loison depara-se com a insurreição de Alpedrinha que, na véspera, rasgara publicamente uma missiva de Junot. As causas do ataque francês são ainda hipotéticas sendo as mais apontadas a recusa da vila em ceder alimentos ao exército ou disparos efectuadas por dois indivíduos que terão provocado vítimas entre os invasores. O que é certo é que Loison atacou Alpedrinha , cuja força de resistência consistia em populares armados com tudo o que tinham podido encontrar e comandados pelo capitão-mor e pelo padre local. À vista do número de atacantes, a população tomada pelo pânico foge, tentando refugiar-se na Gardunha. Em apenas uma hora, das 18h às 19h, cerca de 30 habitantes não conseguem escapar e são assassinados, alguns deles após inacreditáveis torturas, ficando muitos outros feridos, alguns dos quais acabando por morrer dias depois.

Saqueada e incendiada a vila, as tropas francesas retomam o seu percurso para Lisboa onde chegariam com 1/6 de baixas infligidas pela guerrilha. O exército francês acabaria por se retirar de Portugal a 31 de Agosto, derrotados pelos ingleses, que haviam desembarcado a 1 desse mês, na sequência de acordo "estranho" que lhes permitiu embarcarem para França com tudo o que haviam saqueado.


Foto de Alpedrinha retirada daqui
Retrato de Loison retirado daqui
Quadro dos massacres do Dos de Mayo (Goya) retirado daqui

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