A tomada da Bastilha


Li recentemente um livro dedicado à Revolução Francesa que acabou por ser surpreendente pela desmistificação de alguns episódios, inclusive do próprio acontecimento que, pensava eu, assinalava o início da Revolução.

Tradicionalmente, a tomada da Bastilha a 14 de Julho de 1789 é tida como um momento simbólico de revolução do povo que, pegando em armas, derrubou a tirania de uma monarquia absolutista, simbolizada na própria fortaleza, e libertou os prisioneiros que se lá encontravam. Ao ler o livro descobri que afinal a coisa não foi bem assim tão gloriosa e romântica.

Em 1788, a França com os seus 26 milhões de habitantes estava em crise, mergulhada num profundo défice (pior que o nosso!) e numa grande crise social. O Rei Luís XVI decidiu então convocar os Estados Gerais que agregavam as 3 classes sociais: nobreza, clero e o 3º estado (povo). Essa assembleia aconteceria em Maio de 1789 e duraria várias semanas.

Sentindo-se excluídos pelas classes altas das decisões principais, o 3º estado que contudo se encontrava em maioria, decidiu fazer uma revolução política tendo-se declarado como Assembleia Nacional e decidindo legislar a partir daí e procurando dotar o reino de uma Constituição. Embora com alguma resistência inicial, o rei capitulava a 9 de Julho, decidindo que o clero e a nobreza deveriam aderir também a esta Assembleia que assim passava a estar legitimada e oficial. Terminava o regime absolutista e a França abraçava uma monarquia constitucional.

Começou no entanto a viver-se em clima de receio e paranóia devido à incerteza do resultado desta transformação política. Por um lado temia-se um movimento contra-revolucionário e por outro temia-se a reacção popular a uma situação de incerteza política numa situação de carência quase extrema.

Estes receios não eram infundados uma vez que a dada altura, começaram a circular entre o povo boatos de que bandoleiros ameaçavam o povo e também que os aristocratas estavam a pensar em deixar os parisienses famintos. A destituição de Necker, um ministro que recolhia a simpatia popular, e a chamada ao governo de um adepto de medidas rigorosas e excepcionalmente firmes, mais não fizeram que aumentar a agitação popular. Quase de imediato, começaram a acontecer pilhagens um pouco por toda a cidade de Paris. Em reunião de emergência, foi criada uma milícia burguesa destinada a manter a ordem mas... faltavam armas e era essencial obtê-las!

Na manhã de 14 de Julho de 1789, a multidão começou a pilhar o arsenal enquanto outros grupos saqueavam cerca de 32.000 espingardas no Hotel dos Inválidos. Então alguém se lembrou da fortaleza da Bastilha. A Bastilha tinha sido construída em 1382 para proteger o lado Este de Paris e servia desde o Séc. VII como prisão do estado embora estivesse em franca decadência. Uma multidão precipitou-se então para a Bastilha para aí procurar armas.


Nessa altura, o Governador da fortaleza que estava defendida na altura por 7 guardas suiços, alguns inválidos e alguns canhões, tentou numa primeira fase negociar com a turba enfurecida. Porém, talvez por excesso de nervosismo, um tiro disparado inadvertidamente desencadeou os acontecimentos e durante 4h o combate foi renhido. O governador, vendo que pouco havia a fazer, tentou negociar uma rendição pacífica, pela qual ele e os seus guardas seriam poupados mediante a entrega da fortaleza.

A multidão precipitou-se então para a fortaleza e assassinaram o governador e os guardas tendo depois decidido libertar os prisioneiros. Enquanto as cabeças do governador e dos seus guardas eram exibidas em lanças pela cidade, nas masmorras os vencedores verificavam que só ali estavam encarceradas 7 pessoas: 1 acusado de incesto, 2 loucos e 4 falsários. Estes últimos seriam alguns dias depois novamente presos.

Acontecimento de pouca importância, a Tomada da Bastilha foi apresentada como um símbolo da vitória do povo sobre a "Tirania Régia". A fortaleza começou a ser demolida 2 dias depois enquanto o Rei voltava atrás e reinstituía Necker como ministro para além da tomada de outras medidas de reconciliação. No 17 de Julho o Rei voltaria a Paris onde seria recebido pelo povo com gritos de "Viva o Rei! Viva a Nação!". Luís XVI morreria na guilhotina a 21 de Janeiro de 1793.

imagem tirada daqui

Comentários

Benni McCaco disse…
isto sim, isto é que é um post histórico...muito bem, parece que o pessoal adorou...

qual foi mesmo a fonte?
Anónimo disse…
gostei...muito esclarecedor.vlw!