Dicionário do Catano - III

Tortura - (substantivo feminino) sofrimento físico infligido a um prisioneiro, geralmente para o fazer confessar algo que recusa revelar; suplício; figurado grande sofrimento físico ou psicológico; dor intolerável; tormento; angústia; qualidade ou estado do que é ou está torto; tortuosidade; curvatura; (Do lat. tortúra-, «id.») fonte: www.infopedia.pt


Permitam-me que acrescente aqui uma definição contada na forma de uma história:

Desloquei-me hoje à nobre Escola Secundária do Fundão para proceder à instalação de diversos cabos de rede para interligação das salas de informática. Já se sabe, isso envolve uma caixa de ferramentas, uma bobine de 300m de cabo UTP e um berbequim que me fez sentir poderoso!

Entretanto, e uma vez que a escola está a organizar a Feira da Ciência que vai decorrer no pavilhão multiusos, deparei-me com uma grande azáfama de transporte de computadores, transporte de mobília, etc. A escola estava autenticamente a mudar-se para o multiusos. Bem, la fiquei eu a dada altura, a esburacar paredes com as calhas técnicas todas esventradas, acompanhado unicamente de um aluno que estava a trabalhar num dos computadores (que restavam) na sala. Quando decidiu almoçar, veio ter comigo e com um sorriso de quem pensaria talvez estar a fazer-me um grande favor disse com orgulho "Olhe, vou almoçar, mas deixo-lhe aqui a banda sonora do DragonBall Z a tocar!!"

Bem... não tive grande reacção para com ele. Para mim aquilo tinha a relevância que teria uma abordagem do género "Olá! Eu sou o Chico e comprei estas calças no mercado". Seja como for, lá fiquei eu a passar cabo UTP de categoria 5e, e a ouvir uma bela melodia que me evocava os tempos em que o Songoku descarregava bolas de energia em meia dúzia de rufias de roupa esquisita e voz amaricada que mudavam de aparência a cada episódio que passava. Pelo que percebia a regra era: quanto mais feio, mais poderoso, e mais truques vão ser necessários para o derrotar, nem que para tal seja necessário ressuscitar o mesmo tipo pela 10ª vez!

Regressando à sonoplastia que envolvia o meu trabalho, até comecei por achar piada. Claro que após ter percebido que se tratava de uma musica de 3 minutos que se repetia sempre que chegava ao fim, comecei a sentir algum desencanto, que, após 30m assumiu contornos de desconforto pertinente. Contudo la resisti, afinal sempre evitava que estivesse a trabalhar em completo isolamento. Isto até aos 40m quando não resisti e fui desligar o som do computador, som esse que, não referi, estava num volume que a partir das 22h poderia incorrer numa contra-ordenação.

Passado o primeiro cabo, eis que os normais utilizadores da sala regressam do seu proveitoso almoço, privilégio que no meu caso eu tentava associar à força aos 4 douradinhos que tinha saboreado algumas horas antes. Com a população normal a regressar aos seus postos, regressa também o nosso pequeno Dragon-fã com o seu característico sorriso de "estou de pança cheia e agora para ajudar a digestão, talvez se impusesse um interlúdio musical". Claro, voltou a brindar o ambiente com a referida banda sonora...

Em resumo, posso dizer que, após ter ouvido aquela musiquinha várias vezes de seguida e durante 2h, comecei a colocar em causa alguns conceitos que adquiri ao longo da vida e assimilei como convicções inabaláveis, tendo chegado por exemplo a dar o benefício da dúvida a Frei Torquemada e à sua trupe de zelosos inquisidores, e chegando a colocar em causa a não aplicação da pena capital em determinadas situações.

Seja como for, a meio da tarde, o indivíduo que já se encontrava na minha escala de classificação de terceiros, no patamar de "Indivíduo sinistro dispensável", terminou o seu trabalho e retirou-se para grande alívio meu.

Entretanto, eu próprio terminei o meu trabalho e, como a agenda assim o impunha, deixei a secundária e fui célere para o pavilhão multiusos (o mesmo da feira da Ciência) onde se situa a escola de hotelaria, o meu ambiente natural, e onde me aguardavam alguns formandos com o coração nas mãos para eu avaliar algumas apresentações powerpoint. Ao chegar, fiquei algo surpreendido pela enorme azáfama que ia na área principal do pavilhão, onde uma multidão de jovens se dedicava à construção dos stands da exposição.

Entrei para a sala de aula e dei início às apresentações. De repente, uma música vinda da zona da exposição preencheu o ar... Exacto, era a banda sonora do DragonBall Z, Z, Z...

Comentários