Sobre o fumador a quem determinados maços de tabaco faziam mal

Trabalhar num local de atendimento público permite, pela possibilidade de contactos com o género humano em toda a sua diversidade comportamental e opinativa, experimentar as mais variadas situações, desde as mais tristes e periclitantes às mais burlescas e inacreditáveis.

Há alguns anos atrás, quando grande parte do meu tempo livre era passado atrás do balcão de uma certa e determinada pastelaria fundanense, tive oportunidade de assistir a algumas situações que contadas por outro eu acharia difíceis de acreditar.

Era esse por exemplo o caso de um cliente habitual, com os seus 50 anos e daqueles fumadores inveterados que emitem mais CO2 que alguns pequenos países do Terceiro Mundo, que frequentemente ali se dirigia para comprar o seu maço de SG Filtro. Essa compra obedecia contudo a um ritual curioso: o meu pai, que já o conhecia bem, colocava sempre à frente do indivíduo uma série de maços de tabaco à frente, todos da mesma marca, e este examinava-os meticulosamente um a um, acabando finalmente por escolher e pagar um deles.

Finalmente acabei por perceber o porquê deste ritual. O senhor em causa lia atentamente os avisos constantes no maço de tabaco e apenas comprava maços que contivessem avisos mais "suaves" como os que recomendavam que crianças e grávidas não fumassem, evitando de forma diligente -quase religiosa vá!- todos os maços em que estivesse avisos como "Fumar mata", "Fumar pode provocar doenças cardio-vasculares" e, claro, "Fumar pode provocar impotência".

Segundo ele, ao contrário dos primeiros, estes últimos maços de tabaco "davam-lhe cabo da garganta" (sic).

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