Normalmente, quando alguém nos aborda inesperadamente, aquilo que instintivamente esperamos é ser questionados sobre onde se encontra determinado local e qual a melhor estrada para lá chegar, sobre que horas são ou ainda, como tem acontecido de forma crescente nos últimos tempos, sobre a importância de cedermos a nossa carteira e/ou telemóvel rapidamente e sem incorrermos no erro de recorrer ao contraditório.
Suspeitei ao início que o homem tivesse urgência em pedir-me alguma coisa, afinal, veio ter comigo, ao cimo das escadas rolantes descendentes, a correr e repetindo de forma bem audível "Oh amigo! Oh amigo!".
No entanto, e para minha surpresa, descobri afinal que o indivíduo não queria pedir-me nada mas sim partilhar informação comigo. Eis o diágolo surreal que se seguiu:
Indíviduo Tomado Pelo Impulso De Partilha: "Oh amigo, você sabia que quando os franceses nos invadiram, fomos atacados por um homem que se chamava O Maneta? (voz de entusiasmo)"
Eu "Ah sim?..."
ITPIDP: "Não sabia, pois não? Mas foi, chamavam-lhe o Maneta. O Napoleão veio cá meter-se connosco (voz de amargura)..."
Eu "Pois foi..."
ITPIDP: "Mas olhe que o Napoleão não era mais que nós. Levou uma sova em Aljubarrota! A Padeira sozinha chegou para eles! (novamente voz de entusiasmo)"
Eu "Oh diabo! E eu convencido que tinham sido os espanhóis!"
ITPIDP: (gargalhada) "Eu acabei agora de ler um romance sobre essa guerra! (voz de confiança absoluta)"
Eu "..."
ITPIDP: "Bom oh amigo, boa tarde então! Saúde para si! (voz de entusiasmo novamente)"
Eu "Obrigado e igualmente".
E la foi o indivíduo abordar jovialmente um grupo de senhoras que se encontrava ali ao lado, interrompendo a conversa que estas empreendiam.
Não fosse pela ausência de sotaque estrangeiro e eu diria que tinha acabado de ser abordado pelo Eugene, o bacano.(que entretanto bem poderia ter aprendido a falar português telepaticamente com o espírito do Maneta em tertúlia numa esplanada de café com a Brites de Almeida).
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