Cumprem-se hoje o 91º aniversário da batalha de La Lys, considerado por muitos como o 2º Alcácer-Quibir da história militar de Portugal, e que, em poucas horas, levou ao fim do Corpo Expedicionário Português sob o rolo compressor de artilharia e infantaria de alemãs.
Estacionado em Béthune, perto de Lille no Norte da França, ao CEP (formado por cerca de 20.000 homens) cabia a defesa de cerca de 12km da linha da frente, sendo ladeado por duas divisões britânicas. Contudo, a organização e moral no seio das tropas portuguesas estavam perigosamente debilitadas pela falta de apoio por parte de Portugal, sobretudo após a revolução de 1917 e instituição de uma ditadura militar que não privilegiava esse mesmo apoio, pela falta crescente sobretudo de oficiais que aproveitavam a sua licença para ir a Portugal e não voltar, e pelo próprio cansaço das tropas que na altura da batalha já deveriam há muito ter sido rendidas na linha da frente.
O estado de espírito era tal que a 4 de Abril, um batalhão português que deveria regressar às trincheiras, insubordinou-se e recusou cumprir a ordem. Nessa altura, e após sucessivos adiamentos, a retirada das tropas portuguesas ficou marcada para o dia 9 de Abril.
Entretanto, do outro lado a Alemanha desesperava, sentindo o desgaste da guerra de trincheiras e pressentindo a ameaça da chegada iminente das tropas dos EUA que poderiam desequilibrar o conflito. Assim, o general Ludendorff engendra um plano - a Operação Georgette - que consiste em atacar com uma incrível concentração de meios, a zona onde se encontra o CEP, à partida o sector mais frágil da linha da frente para depois tentar fazer uma exploração do sucesso da penetração nas linhas aliadas, forçando os ingleses a retirar para Calais e depois para Inglaterra, deixando assim a França sozinha no conflito contra um inimigo superior.
É assim que, exactamente às 4h15m da madrugada, numa altura em que a retirada de alguns efectivos forçara os restantes 16 mil portugueses a alongar-se perigosamente pelos 12 km de trincheiras da sua linha, que os alemães desencadeiam, com o auxílio de 1.500 peças de artilharia, um infernal bombardeamento sobre as linhas portuguesas, que assim sofrem o incessante impacto de bombas e de gás venenoso. Com as comunicações cortadas, não tardou muito para que o caos se instalasse entre as tropas portuguesas, ficando os sobreviventes dispersos e isolados, sem saber o que se passava noutros sectores.
Quando às 8h45m finalmente a infantaria alemã avança, os abalados portugueses, apesar da feroz resistência até à baioneta, não têm qualquer forma de suster o ímpeto de 55.000 homens do inimigo que sem grande dificuldade tomam as primeiras linhas das posições lusas. Nas primeiras horas de combate, o CEP perde 7.500 homens, isto é, cerca de um terço dos seus efectivos totais.
Com todos os meios em reserva (portugueses e sobretudo britânicos) a serem deslocados para suster o avanço alemão, o esforço tenaz de resistência luso-britânico será contudo decisivo para ganhar tempo até à chegada de novas unidades à linha da frente que acabarão por suster finalmente o avanço alemão já em 22 de Abril.
Quanto ao CEP, deixará de existir como unidade de combate, e os seus soldados virão a ser distribuídos pelas várias unidades da frente, subordinados ao comando britânico.
Ver também: O SOLDADO MILHÕES
Fontes:
"I Guerra Mundial - Portugal nas Trincheiras", Visão História, nº 4, Fevereiro de 2009, p 62-64
Chemins de Mémoire (http://www.cheminsdememoire.gouv.fr/page/affichepage.php?idLang=fr&idPage=9286), Abril de 2009
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