Depois de uma primeira tentativa mal sucedida de organizar um passeio até terras de Penedono (meteu água, literalmente), desta vez a comitiva do Blog do Katano não facilitou e manteve a intenção de passeio e o nome do destino em absoluto sigilo até à hora do mesmo, não fossem as condições metereológicas degradarem-se novamente.
Em terra de Bandarra
Assim, em plena madrugada do dia 14 de Fevereiro (madrugada para metade da comitiva, pelo menos), e após uma retemperadora e oportuna dose de cafeína (pelo menos para alguns), a expedição arrancou rumo a Norte, desbravando a A23 e depois a A25 até Celorico da Beira, tomando depois o rumo que levou à primeira etapa: Trancoso.
Em terra de Bandarra
Gonçalves Annes Bandarra, sapateiro e, para muitos, profeta, facto que lhe valeu ser perseguido pela Inquisição.
Em Trancoso, vila ainda cercada quase na totalidade pelas sua muralha medieval, a paragem não se prolongou muito. A visita começou pela estátua do nativo mais famoso (exceptuando o famoso padre que teve 299 filhos), Gonçalo Annes Bandarra (1500-1556), sapateiro de profissão e profundo conhecedor do Antigo Testamento, que deixou algumas obras escritas que, pelas interpretações que delas têm sido feitas, tratar-se-iam de profecias e nelas estaria inclusive predito o desaparecimento de D.Sebastião em 1578 e o seu posterior regresso para salvar a Pátria. Esta interpretação constitui um pilar fundamental do mito do sebastianismo.
Na estátua, para além da representação dos elementos próprios do ofício de sapateiro, que curiosamente se encontram sobre o pedestal, ao contrário do homenageado que está apeado, encontra-se também o pormenor curioso da presença de uma folha sob esse mesmo pedestal. Este pormenor diz respeito a uma lenda segundo a qual, de acordo com o meu falecido avô paterno, um indivíduo querendo pôr à prova a tão gabada capacidade de observação de Bandarra, foi colocar discretamente uma folha sob uma pedra que se encontrava no horizonte que o profeta frequentemente admirava.
Este contudo, ao olhar a pedra ficou admirado e terá mesmo dito "Ou a terra já subiu, ou o céu já desceu...". Irritado, o indivíduo terá ido então retirar a folha após o que Bandarra corrigiu em nova observação "Ou a terra já desceu, ou o céu já subiu".
Há no entanto outra versão que dita que Bandarra se terá simplesmente sentado sobre a pedra, na qual se sentava frequentemente, sob a qual de alguma forma se encontrava uma mortalha e manifestou a sua estranheza pela súbita "mudança" de altura da pedra com as mesmas palavras.
Continuando a visita, saímos das muralhas para ir até à necrópole rupestre que se encontra junto ao tribunal, a partir da qual nos dirigimos ao Castelo que, interminavelmente continua em obras.
Momento em que numa atitude de profundo desrespeito pelo património, um elemento não identificado da comitiva decide repôr as horas de sono em atraso sob o pretexto de o querer fazer por apenas um minuto. Não foi fácil explicar-lhe que não se tratava de um conjunto elaborado de espreguiçadeiras de uso público.
Se as obras pretendem melhorar as condições de visita dos turistas, há alguns pormenores que me desagradam particularmente pela descaracterização que vão impôr ao espaço interior do castelo, como é o caso da escadaria sui generis que irá permitir o acesso à torre de Menagem. Será sem dúvida falta de bom gosto e estética da minha parte, achar que uma escadaria de betão ladeada de 2 muros de altura uniforme até ao nível da porta de acesso da torre não se enquadra no contexto da fortificação medieval e é com certeza por isso que existem iluminados arquitectos que tomam estas decisões.
Isto para não ser picuinhas a ponto de criticar a também betonada nova rampa de acesso à porta do castelo...
O castelo de Trancoso com as suas muralhas reformadas por D.Dinis e onde se distingue à direita a torre de menagem dita "moçárabe", com a sua peculiar forma sub-piramidal.
Seja como for, tal como a simpática família francesa que optou depois por se sentar no cruzeiro em frente à entrada do castelo para merendar (atitude até bastante tuga segundo certos e determinados elementos da comitiva do Katano), também nós ficámos desolados por não poder visitar o interior do castelo com a sua peculiar torre de menagem "moçárabe". Esta torre corresponderá à primitiva torre de defesa/castelo roqueiro (Séc IX / X) à volta da qual se desenvolveu em épocas posteriores a cerca de defesa que, com as alterações góticas de D. Dinis (que não viveu no Séc XVI ao contrário do que diz a SIC), chegou aos nossos dias.
A seguir: Penedono, Missa numa Anta, Mortos no pátio de um castelo e mais tuguismo de qualidade
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