O dia em que Berlusconi foi agredido com uma catedral

Massimo Tartaglia, de 42 anos, era um perfeito desconhecido até ontem à noite ter agredido Sílvio Berlusconi, o infame primeiro-ministro italiano, durante uma acção de campanha em Milão. Segundo consta, Tartaglia terá consumado a agressão com uma réplica do Duomo, a catedral de Milão, não tendo contudo tido tempo para empregar o spray de gás pimenta e o crucifixo que também transportava. Estou até curioso sobre o modo como o agressor tencionava empregar o último objecto.


Berlusconi ainda tentou manter a compostura, após ter sido carregado para dentro do seu carro, acenando às pessoas que se encontravam na rua mas duvido que estas tenham reconhecido Berlusconi a quem nesta altura faltavam alguns dentes e cujo nariz e face estavam algo alterados em termos estruturais.

Entretanto Tartaglia foi formalmente acusado de acto terrorista o que infunde em mim algum sentimento de sensacionalismo pois, nesta linha de pensamento, posso afirmar que há dias vi dois indivíduos embriagados envolvidos na prática de actos terroristas recíprocos em plena via pública.

Creio no entanto que Tartaglia terá com este acto sido elevado aos olhos do Mundo a um estatuto semelhante ao de Muntazer al-Zaidi, o famoso jornalista que quis fazer ver de perto a George Bush a qualidade do calçado iraquiano, embora sem a eficácia do italiano.

Quem ganha com isto é também o Duomo que irá sem dúvida beneficiar deste enorme golpe publicitário e até aposto que muitos italianos quererão guardar em casa com carinho uma réplica idêntica à que contactou com o rosto de Berlusconi.

Este é o último dissabor na carreira de Berlusconi, um político a quem faltam alguns atributos quiçá importantes como bom-senso, educação e sentido de oportunidade (quem não se lembra da sua célebre comparação do campo de acolhimento de L'Aquila, povoação devastada por um terramoto, a um fim-de-semana de campismo?) e sobre o qual pairam suspeitas de corrupção e fuga ao fisco. Aliás, Berlusconi salvou-se de ser julgado por fraude fiscal devido a uma lei de imunidade política oportunamente aprovada...

Ainda bem que somos um país de brandos costumes senão, mais dia menos dia, o nosso primeiro-ministro José Sócrates correria o risco de ser abordado por um qualquer indivíduo mal intencionado munido com uma réplica da Torre dos Clérigos, por exemplo, situação que poderia ter um desfecho trágico.

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