Perante a necessidade de haver um dirigente para a nova cidade, criou-se a figura do Dux, termo que mais tarde evoluiu para Dodge. O Dodge era eleito por um processo complexo e, apesar de ocupar um cargo de topo, detendo o controlo sobre a vida quotidiana da população, a sua actividade era constantemente vigiada para que não incorresse em abuso de autoridade - se tal se suspeitasse, poderia muito bem ser condenado à morte! Quem controlava a nobreza era o “Conselho dos dez” e três inquisidores ou “Conselho dos três” que detinham o poder de condenar à morte qualquer cidadão. Outras cidades-estado foram dominadas por um só homem ou por uma família, mas tal nunca ocorreu com Veneza, onde “todos os homens são iguais, mas subordinados a um bem comum”. Veneza foi também apelidada de “República Sereníssima”, pela sua estabilidade política que lhe permitiu uma enorme expansão comercial. Tornou-se no ponto de chegada à Europa da Rota da Seda e nela se cruzaram durante séculos diferentes raças, culturas e religiões, ao mesmo tempo que circulavam a seda, as especiarias e as pedras preciosas. O célebre mercador de Veneza Marco Polo, que terá vivido durante 25 anos na corte mongol no Catai, para onde partiu em 1292, regressou com um impressionante carregamento de rubis, pérolas e esmeraldas que surpreendeu uma cidade habituada ao comércio de luxo. As influências orientais, sobretudo bizantinas, enraizaram-se na cidade, criando um estilo arquitectónico único – o gótico florido. Tais influências, tão óbvias um pouco por toda a cidade, tomam grandes proporções na Basílica de S. Marcos e na ampliação do Palácio dos Dodges.
O apogeu económico de Veneza deu-se no século XV, numa altura em que os venezianos dominavam o Mediterrâneo, mas a partir daí o declínio começou, após a conquista de Constantinopla pelos turcos (1453) e com a chegada de Vasco da Gama à Índia, facto que proporcionou uma via mais rápida e lucrativa de comércio com o Oriente – para bem de Portugal.
A estabilidade política e os mais de 1100 anos de função dos Dodges tiveram fim em 1797, com a conquista da República Sereníssima por Napoleão, que mais tarde cedeu a cidade aos austríacos. Só em finais do século XIX, durante a unificação da península, é que Veneza foi agrupada no actual território de Itália.
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