Buck Rogers no séc. XXV ou porque não se devem rever séries que marcaram a nossa infância

Depois do artigo ontem dedicado a Peter Graves e à série que o eternizou, Missão Impossível, dei por mim a percorrer mentalmente as séries que marcaram a minha infância e que eu acompanhava tão religiosamente como uma senhora idosa e beata em relação ao hábito de assistir à santa missa. Aliás, creio mesmo que, não fosse a minha ingenuidade de então, própria de uma criança imberbe, e eu poderia muito bem ter usado este argumento para me furtar à obrigação imposta de ir assistir à missa de Domingo.

Se há série que eu seguia com especial devoção, essa era sem dúvida a incomparável "Buck Rogers no século XXV" da autoria do inevitável Glenn A. Larson. Já se sabia de antemão que o final das tardes de Sábado seriam sempre passados frente ao televisor, que na altura apenas captava a RTP1 e a preto e branco, para acompanhar as aventuras deste autêntico ícone e modelo de vida que era o capitão William Buck Rogers, interpretado por Gil Gerard.

A história era simples: em 1987 (lá estava mais uma vez o optimismo que daria origem também a séries como "Espaço 1999"), a NASA enviava a última sonda espacial tripulada de exploração do espaço profundo. No entanto, um fenómeno sem explicação acabaria por colocar o capitão Buck Rogers em animação suspensa ao mesmo tempo que desviava a nave Ranger 3 da sua trajectória prevista, projectando-a para uma outra que haveria de a trazer de volta à Terra cerca de 500 anos mais tarde.

Da série, para além do inesquecível robô Twiki, fazia também parte a inesquecível Coronel Wilma Deering (Erin Gray) uma mulher que, pelo que me recordo, dava asas à minha imaginação pré-pubere. Era impossível não ficar caído por aquela mulher com personalidade forte e olhos claros, que vestia roupas de combate brancas justas e pilotava caças com uma destreza só comparável à ferocidade com que disparava as suas armas laser. Creio que houve ali até um momento em que o meu principal objectivo de vida era casar com a coronel Wilma Deering. O drama abateu-se contudo sobre a minha vida no dia em que a série chegou ao fim. Desesperado, cheguei a ponderar colocar a trouxa às costas e partir à procura da Wilma mas, provavelmente porque era hora do almoço, acabei por desistir da minha aventura.




Depois da série terminar (recordo-me que só deverei ter perdido um episódio porque o retransmissor da Gardunha estava com problemas nesse dia, para meu desespero), fiquei com uma excelente recordação da mesma, recordação que aliás me acompanhou durante muitos anos... até que cometi o erro crasso de rever alguns episódios, cerca de 20 anos mais tarde.

Subitamente, Buck Rogers deixou de ser um galã ginasticado que seduzia tudo o que fosse fêmea para passar a ser um macho latino chauvinista, que usava a exibição ostensiva da "peitaça" como instrumento privilegiado de sedução, e a série passou a ter uma conotação extremamente sexista. Os efeitos especiais, então tão fantásticos aos olhos de uma criança, passaram a parecer terem sido efectivamente feitos por uma criança, e o enredo que então aparentava ser genial, passou a ser, vá lá, pateta. Confesso que me arrependi amargamente de ter revisto esta série depois de tanto tempo.

E quem diz Buck Rogers no Século XXV, diz "Capitão Power e Os Soldados do Futuro", uma série de ficção científica pós-apocalíptica (estão a ver um padrão, aqui?) no qual os robôs tinham conquistado o Mundo (esta ideia era então recorrente) e, não contentes com isso, perseguiam os humanos sobreviventes para os digitalizar (o que quer que isto pudesse significar embora a ideia que ficasse do processo é que era extremamente doloroso).

Felizmente para a Humanidade ainda havia um punhado de resistentes, o Capitão Power e os Soldados do Futuro (nunca ninguém me explicou porque é que eram "do futuro" se aquilo era o presente deles), que atacavam os robôs sem dó nem piedade, com a ajuda de fatos especiais. Assim, tipo Power Ranger.




Há alturas em que não me importava de ter a minha inocência de volta...

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