Cidade Velha de Cáceres - Património Mundial



A cidade espanhola de Cáceres é a capital da província com o seu nome que, em conjunto com a província de Badajoz, forma a Região Autónoma da Extremadura, cuja capital é Mérida. Trata-se aliás de um caso raro de uma Região Autónoma cuja capital não é também capital de província. Candidata a Capital Europeia da Cultura em 2016, Cáceres tem no seu Centro Histórico o seu grande pólo de atracção, tendo este sido classificado pela UNESCO como Património da Humanidade em 1986.

Quem visita este centro histórico compreende facilmente o porquê e a naturalidade desta classificação. Em cada construção, percebe-se a sucessão dos séculos de vida desta cidade como se cada um deles tivesse sido eternizado pelo casamento perfeito de granito, xisto, quartzite e adobe nos vestígios romanos e árabes e nos inúmeros palácios que se encontram ao abrigo das muralhas.


De Norba Caeserina a Al-Qazris

Cáceres foi fundada pelos romanos no Séc I a.C. com o nome de Norba Caeserina, junto a 2 acampamentos militares romanos construídos provavelmente na época das guerras de Sertório, numa localização privilegiada junto à chamada Via da Prata que ligava Astorga, no Norte, a Mérida a capital da Lusitânia Romana. Esta cidade tinha cerca de 5.000 cidadãos romanos num total de cerca de 25.000 no território de influência da cidade.


Foto satélite de Cáceres. No canto superior direito vê-se uma enorme área rectangular com cerca de 400x700m que corresponde a um dos acampamentos romanos, Castra Cecília, que aqui foram construídos antes da fundação da colónia. A actual Plaza Mayor situa-se no ponto B



Inscrição funerária romana encastrada no muro de uma casa onde antes se encontrava a "Porta de Mérida", a porta da cidade que estava orientada para Mérida. Na inscrição pode ler-se Q. CAECILIVS SEX. F. AVITUS AN. XXXV HSESTTL, ou seja algo como Aqui jaz Quinto Cecílio Avito, filho de Sexto, com 35 anos. Que descanse em paz (Que a terra lhe seja leve).



O Arco de Cristo, a única porta romana das muralhas que ainda se conserva de pé.


No século V, a cidade viria a ser arrasada e abandonada durante a turbulência da queda do Império originada pela chegada maciça dos povos ditos Bárbaros. Assim permaneceria até à chegada dos Árabes séculos mais tarde. Rebaptizada de Al-Qazris, a cidade foi cercada de uma imponente cintura de muralhas que resistiu até à sua definitiva tomada pelos cristãos em 1229. Da época árabe subsistem vários troços de muralha assim como várias torres e o Aljibe, a cisterna de armazenamento de água da qual apenas outro exemplar subsiste a nível mundial, impressionante com as suas colunas e arcos.



A Torre del Bujaco, torre albarrã (avançada em relação à muralha e ligada a esta por uma passagem superior) de origem árabe que domina a Plaza Mayor junto à porta do Arco de La Estrella aberta no século XV e alargada no século XVIII para permitir a passagem das carruagens para os palácios adjacentes.



Ermida de San Antonio, construída sobre uma antiga mesquita e situada em plena Antiga Judiaria de Cáceres, caracterizada pelas suas casas baixas com arruamentos estreitos e irregulares.



As guerras urbanas e a conquista das Índias Ocidentais

Após a conquista cristã, para a cidade migraram cidadãos dos vários reinos da Península Ibérica, formando-se facções que disputaram o poder entre si, sobretudo leoneses e castelhanos. Esta situação de instabilidade durou até ao reinado dos Reis Católicos no século XV quando foram tomadas medidas para pacificar a cidade.



Como por vezes os combates ocorriam não só nas ruas mas entre as próprias casas, sendo estas típicas casas fortificadas dotadas de altas torres, uma das medidas "pedagógicas" tomadas pelos reis católicos foi a de mandar rebaixar as torres. A única torre que escapou à ordem foi a torre da Casa das Cegonhas pelo único motivo de o proprietário ser um dos mais fiéis súbditos dos reis de Espanha. Também por esse motivo, foi permitido ao dono da casa colocar as armas reais de Espanha na fachada.

Cáceres beneficiou mais tarde das riquezas trazidas do Novo Mundo (obtidas através de meios "menos ortodoxos") por membros de várias famílias nobres radicadas não só em Cáceres mas da Extremadura em geral. A saga dos "Conquistadores" do Novo Mundo ficaram irremediavelmente associados nomes extremenhos como Orellana, Pizarro, Toledo e Balboa. Um dos maiores palácios de Cáceres é aliás o palácio Toledo-Montezuma, ramo que descende do casamento de um dos membros da rica família Toledo com a filha do imperador Azteca Montezuma.


Postais de Cáceres


Plaza Mayor



Igreja e Convento dos Jesuítas


















Concatedral de Santa Maria


Cáceres é sem dúvida uma cidade feita para ser visitada mas fazê-lo a um Domingo não é boa ideia se tivermos em conta os horários em vigor pois apenas meia dúzia de locais estavam abertos para visita (à tarde só a partir das 17h30 locais e até às 2oh) e a casa-museu da cultura árabe sofreu infelizmente uma avaria eléctrica que resultou num apagão que impossibilitou a visita, gorando as nossas expectativas.

Valerá a pena voltar a esta cidade com mais tempo e mais calma até porque a candidatura a Capital da Cultura promete... Finalmente, um dos últimos aspectos interessantes que saltou à vista foi a preocupação para com as pessoas invisuais ou de mobilidade reduzida em termos de definição de circuitos e de distribuição de painéis informativos. Infelizmente... no melhor pano cai a nódoa! Isto é contudo tema para um próximo artigo.

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