Das Portas do Ródão ao "Castelo do Rei Wamba"


A Sul de Castelo Branco, no concelho de Vila Velha de Ródão, encontramos as famosas Portas do Ródão, um impressionante estreitamento do Rio Tejo classificado como Monumento Natural e integrado no Geopark Naturtejo que não deixa ninguém indiferente. Isto embora a construção da barragem a jusante lhe tenha retirado a sua espectacularidade de outros tempos como se pode ver na foto abaixo.


Gravura antiga das Portas do Ródão. Representação invertida em relação à foto acima. Imagem ARQA

Na margem direita do Tejo estende-se a linha de caminhos de ferro da Beira Baixa que, de Vila Velha de Ródão até praticamente ao Entroncamento, oferece uma paisagem magnífica aos viajantes. É aliás um dos percursos de comboio que mais gosto de fazer.

Numa posição dominante sobre a "porta direita", encontra-se a plataforma sobre a qual se insere o lendário "Castelo do Rei Wamba", juntamente com a ermida da Senhora do Castelo. O local foi recentemente requalificado, tendo sido equipado com mobiliário e infraestruturas que permitem fazer deste local um excelente parque de merendas e miradouro. Por outro lado, e como durante as Invasões Francesas este local foi integrado na linha das fortificações da Serra das Talhadas, foi aqui criado um percurso pedestre que permite aos caminheiros percorrer algumas dessas baterias que recentemente foram alvo de intervenção arqueológica.


A Ermida de Nossa Senhora do Castelo e, ao longe, a Torre de Menagem do Castelo "do Rei Wamba".


O percurso até ao castelo mostra bem a qualidade da intervenção realizada. De ambos os lados foram preservadas as árvores, algumas delas oliveiras provavelmente milenares.

Do alto da Torre de Menagem (o nome que se dá à torre dominante do castelo, local de habitação da autoridade do mesmo e último refúgio em caso de ataque), avista-se uma paisagem belíssima principalmente Além Tejo com destaque para a curiosidade da presença de uma extensa área de conheiras: o Conhal do Arneiro, restos da exploração de ouro pelos romanos.

Vista para a metade alentejana das Portas do Ródão. A crista quartzítica estende-se por vários quilómetros.


O Tejo serve de fronteira entre o Alto Alentejo, à esquerda, e a Beira Baixa, à direita. Na margem esquerda avista-se o Conhal do Arneiro, uma extensa área coberta de pedras pequenas que constituem o vestígio mais visível da exploração aurífera desta área em época romana.


O Castelo do Rei Wamba, ou Castelo do Ródão


O Castelo do Ródão é também chamado de Castelo do Rei Wamba devido à lenda segundo a qual o mítico rei visigodo, cujo local de nascimento a tradição situa na actual Idanha-a-Velha, terá aqui vivido um episódio particularmente dramático da sua vida.

Pessoalmente já ouvi duas histórias completamente diferentes mas, pelos vistos, a versão que corre em Vila Velha de Ródão conta que neste castelo vivia o Rei Wamba, vigiando os Mouros que dominavam a margem oposta do Tejo. Ora a mulher de Wamba apaixonou-se pelo Rei Mouro e este, procurando resgatá-la, cavou um túnel que deveria passar sob o Tejo e sair junto ao Castelo. Por erro de cálculo o túnel saiu junto ao nível do rio e foi descoberto por Wamba que percebeu a paixão da sua mulher pelo Rei Mouro.

Furioso, anunciou então que renunciava a mulher e a oferecia ao seu amado, tendo-a amarrado a uma mó e atirado a rolar pela encosta abaixo. Diz-se que a faixa sem vegetação que coroa a crista das Portas do Ródão assinala o local onde a mulher de Wamba passou em direcção à morte.

Claro que uma lenda tem o condão de aproximar personagens e épocas como é este o caso. De facto Wamba reinou sobre os Visigodos entre 672 e 680, tendo falecido em 687. Tendo em conta que os Árabes desembarcaram no Djebel El Tarik ("O Rochedo de Tarik", actual Gibraltar) em 711, seria pois difícil acontecer este confronto entre os Mouros e o Rei Wamba.

O próprio Castelo será de fundação Templária, já no século XII/XIII, no contexto da doação destas terras à Ordem do Templo pelo Rei D.Sancho I. Sobre a porta da torre de menagem encontra-se aliás uma inscrição com o inconfundível símbolo dos templários. Mais tarde, dada a sua situação estratégica dominante sobre o Tejo e sobre a passagem de Vila Velha de Ródão, estrada vital entre as Beiras e o Alentejo, o castelo foi integrado num conjunto de fortificações durante as Invasões Francesas, das quais ainda hoje se encontram vestígios.





Quer pela paisagem, quer pelo interesse histórico e de encontro de mitos, as Portas do Ródão e o Castelo do "Rei Wamba" merecem bem uma visita.

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