Mais um dia fantástico na Repartição de Finanças nº620

Admitido novamente ao estatuto de contribuinte não devedor e procurando aproveitar a magnífica benesse, magnanimamente oferecida aos Trabalhadores Independentes pelo Ministro das Finanças, desloquei-me na semana passada, após longa ausência, à Repartição de Finanças nº620 para saber o que tinha de entregar para solicitar o reembolso da coima de não entrega da declaração anual de IVA (que essa sim, tinham feito questão de me avisar para pagar).

Chegado ao local e tendo encostado o pancips ao balcão, olhei em volta. À minha esquerda, o belo exemplar de funcionário público mestre na arte das técnicas de atendimento, trabalhava no seu habitual registo, dando sermão a um contribuinte, certamente castigando-o pelo trabalho que ele tinha ousado ir ali dar-lhe. À direita, duas funcionárias discutiam com outro contribuinte a temática do momento, especificamente o drama das bocas de incêndio congeladas.

Ali fiquei cerca de 5 minutos até que uma outra funcionária, que até então tinha estado sentada na sua secretária, resolveu levantar-se e vir atender-me. Contudo, o seu percurso em direcção ao balcão foi por demais sofredor, como se a distância fosse a suficiente para, em caso de excessiva velocidade, desfalecer a meio do percurso por desidratação.

Tendo-lhe explicado o que pretendia, levantou lânguidamente a mão apontando para uma das suas colegas que discutiam a temática do frio, referindo com ar grave que o assunto em questão teria de ser resolvido por aquela colega especificamente.

Procurando sossegá-la nas suas preocupações disse-lhe para não se preocupar pois eu não me importava de esperar mais um bocado enquanto a colega conversava com aquele senhor. Esta frase teve algum efeito nela pois não arredou pé dali, embora não me tenha dirigido mais a palavra, enquanto a colega não deu por terminada a conversa com o contribuinte.

Finalmente esclarecido (eu teria apenas de entregar um requerimento, anexando-lhe prova de pagamento e entrega de declarações), compus o texto do referido documento com um gosto invulgar tendo passado hoje pelo balcão da Repartição nº620 para o entregar, juntamente com os anexos necessários tendo sido curiosamente atendido pela mesma funcionária.

Tendo saído das instalações da Repartição nº620 após a entrega da documentção, não pude deixar de controlar um movimento impulsivo que me levou a bater com a palma da mão na testa, pois constatei subitamente que me havia esquecido de referir que perdoava ao Estado eventuais juros de mora. Tudo em prol da retoma da Nação, claro!

Pateticamente, o meu último parágrafo, estropiado dessa ideia fundamental, apenas consistia no seguinte texto:

"Lamento contudo que esta situação tenha resultado da falta de informação, sendo que, ao balcão da Repartição de Finanças do Fundão, apenas me foi comunicada a obrigatoriedade da entrega das declarações trimestrais de IVA. Um lapso lamentável mas que, tendo em conta que se trata de uma repartição onde há quem atenda os contribuintes de palito na boca e responda a questões relativas a legislação sobre IRS com um esclarecedor "o artigo diz o que lá está escrito" (SIC), não será de todo incompreensível."

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