A praga da criminalidade

Se há assunto que inquieta os portugueses neste momento, ainda mais que o défice ou o mostrar as fotos das férias aos amigos, esse assunto é sem dúvida a criminalidade que parece ter subitamente tomado proporções dignas de ser classificada como calamidade pública. (Bom aqui também podemos considerar o mostrar das fotos das férias aos amigos como crime...).

Desde bancos que são assaltados sistematicamente, ponderando já abrir uma caixa destinada apenas a grávidas, deficientes e assaltantes, até bombas de gasolina que se preparam já para oferecer o cartão de pontos Fast-Gatuno, já ouvimos de tudo.

Das caixas multibanco então nem se fala! Não bastavam já os típicos assaltos às pessoas consultam avidamente o seu saldo para saber se a meio do mês ainda há dinheiro para ir ver o filme do Batman, agora os assaltantes ficaram mais exigentes. Não querendo esperar na fila como toda a gente, dirigem-se às traseiras das caixas multibanco para solicitar o capital directamente ao diligente funcionário que se encontra inocentemente a recarregar o dito aparelho com a panóplia de notas desse dia.

Chega-se inclusive ao cúmulo de se arrombar a porta de um tribunal para ir buscar o capital à caixa multibanco que se encontra instalada no edifício. Vá lá que, pelo menos, pode-se sempre aproveitar esta ocasião para uma pausa retemperadora junto à máquina de vending uma vez que, isto de praticar assaltos, é uma profissão que obriga a muita e intensa mobilidade, talvez até mais elevada que a de certos e determinados funcionários públicos que, até há pouco tempo, cumpriam honradamente o seu horário de trabalho dedicando especial atenção táctil à sua micose.

A criminalidade chega a tal ponto que, parecendo contagiosa, já há até notícias de alforrecas que se associam em bandos junto à costa portuguesa para atacar (citando vários jornais da nossa praça) os incautos banhistas! Ainda por cima, isto da alforreca é uma coisa chata porque, vá lá, o assaltante depois de ter aquilo que é o seu objecto de desejo retira-se do local, agora a alforreca não. Agarra-se com quantos tentáculos tem aos banhistas como quem diz "Agora espera aí para eu decidir o que é que quero" e depois não se decide... Safam-se as farmácias que assim escoam litros e litros de Fenistil.

Contudo, a polícia portuguesa já deitou mãos à obra e decidiu contra-atacar para levar à justiça os perigosos meliantes (não as alforrecas, claro) ou para, pelo menos, roubar tempo de antena nos telejornais às notícias de assaltos. É isso que se depreende das notícias diárias de rusgas em bairros "típicos" dos subúrbios e ainda de mega-operações STOP nos locais mais inesperados.

Os resultados estão à vista! Só numa noite em que se fez uma rusga, o responsável pelas relações públicas da GNR anunciava orgulhosamente que, só nessa acção tinham sido identificadas 170 pessoas e que havia sido apreendida uma arma branca! Ora isto vem, e de que maneira, contribuir para a minha paz de espírito. Agora sei que, algures em Portugal, há 170 pessoas que a polícia conhece e que, ainda por cima, há menos um canivete em circulação nas ruas (isto enquanto os juízes libertam os traficantes de armas mas é bem compreensível: é preciso que alguém venda as armas, sobretudo as brancas, para a polícia ter algo para apreender quando anda a identificar pessoas em massa).

O Governo por seu lado também está a cumprir a sua parte ao anunciar que vai ser muito mais complicado obter licença de porte de arma, ou seja, o interessado em ter uma arma em sua posse, seja para efectuar o assalto desse dia, seja, noutra perspectiva, para receber os assaltantes festivamente com pirotecnia caseira, vai ter de pagar mais caro. Daqui de onde me encontro, já consigo ouvir os negociantes de armas ilegais a esfregar as mãos de contente.

Pelo sim, pelo não, levarei o meu canivete comigo na próxima vez que for ao multibanco... ou à praia, vá!

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