De Viana ao Lindoso

Volto com este post aos 6 dias de férias no Alto Minho para descrever o percurso que fizemos de Viana ao Lindoso aproveitando um belo dia ensolarado -coisa não muito frequente-, por sinal, o único dia em que não tínhamos abordado a possibilidade de ir à praia.

Assim, saímos de Viana do Castelo rumo a Vila Nova de Cerveira pela A28, uma vez que já conhecíamos o percurso pela estrada nacional que passa por Caminha e que eu recomendo a quem não conhece. Daí, e com o rio Minho como companhia, chegámos a Lapela, uma pequena freguesia do Concelho de Monção.

Nesta aldeia, que é ponto de passagem da ecovia que liga Monção a Valença, destaca-se a impressionante Torre, último vestígio do castelo que durante centenas de anos guardou a fronteira. Esta torre terá sido erigida no séc. XIV a mando de D.Fernando durante as obras que transformaram profundamente o castelo que aqui existia desde 1130.

Infelizmente, pela sua posição e pela evolução da piro-balística, o castelo perdeu importância em relação ao de Monção e, em 1706, D. João V ordenou o seu desmantelamento para que as pedras fossem empregues na construção da fortaleza abaluartada de Monção.

A própria Torre esteve ameaçada mas resistiu ao homem e à natureza pois, para além da ameaça de ser desmantelada para que as suas pedras fossem empregues na fortaleza de Valença, sobreviveu inclusivé à queda de um raio no séc. XIX. Actualmente encontra-se ainda em bom estado e devidamente sinalizada e explicada, sendo ainda possível entrar no seu interior mediante pedido à Capitania local.

Contudo é também lamentável a insensibilidade e o desrespeito por este monumento que, na sua base, serve de suporte a vários estendais de roupa.


Continuando o nosso percurso e antes de chegarmos a Melgaço onde foi impossível parar dado o intenso movimento e falta de locais de estacionamento que a vila apresentava, passámos por Monção, uma etapa que se revelou algo deprimente.

De facto, as muralhas estão votadas ao abandono e nelas apenas prolifera vegetação. Pergunto-me se não teria sido mais vantajoso investir-se na requalificação das muralhas do que investir numa estátua do Cutileiro. Pelos vistos alguém achou que não. Melhor trabalho se fez em Valença e Almeida mas ainda tenho esperança que não seja tarde demais. A gloriosa história do castelo e das fortificações de Monção merece-o.

Depois de passarmos por Melgaço, onde, como já disse, foi impossível parar, e continuando em direcção à Serra da Peneda, houve tempo para uma paragem junto à Igreja do antigo Convento de Fiães, agora praticamente desaparecido mas com origens no séc. IX, e que terá pertencido depois à Ordem de Cister. Aproveitámos o espaço calmo e idílico que encontrámos no local para o retemperador almoço e para observar com atenção os múltiplos pormenores que, nas paredes do templo, nos dão indícios sobre as diversas alterações que sofreu desde a sua construção.


Continuando o caminho chegámos a Castro Laboreiro, com o seu castelo que faz lembrar, pela sua localização, os castelos dos Cátaros na região dos Pirinéus. Depressa se chega a ele através de um percurso de cerca de 700m bem sinalizado. O pior foi mesmo o vento que fustigava o topo do monte. Aqui, para grande pena nossa, não chegámos a ir ao planalto onde se encontra uma das maiores necrópoles megalíticas da Europa. Ficou apontada no bloquinho para uma futura ocasião.


Depois de Castro Laboreiro, seguimos para Lamas de Mouro, localidade onde descobrimos uma simpática capela medieval e um curioso forno comunitário inteiramente em granito, destoando daqueles que
foram aqui protagonistas há uns tempos atrás. Perto daqui encontra-se um centro de acolhimento de visitantes, a Porta da Peneda, local de paragem obrigatória para quem queira saber exactamente o que pode encontrar nesta região.

Depois da passagem pela Senhora da Peneda onde uma senhora já idosa nos proporcionou um momento inesquecível que será tema, só por si, para um post, chegámos ao Lindoso já ao final do dia. Quer pela paisagem, quer pela sua riqueza patrimonial, é um local de visita obrigatória. Basta dizer que o seu castelo mostra toda a evolução em termos de mecanismos defensivos desde a Idade Média até à Idade Moderna e que, junto a ele, encontramos uma concentração de mais de meia centena de espigueiros em torno de uma eira comunitária.

Posto o Sol e sob a iluminação artificial, estar no centro desta concentração de espigueiros sob o bailado dos morcegos, que nos passam junto à cabeça, é uma experiência inesquecível.


Antes do regresso, houve ainda tempo para uma visita nocturna ao Soajo, local de outra concentração de espigueiros, antes de regressarmos a Viana do Castelo, desta vez por Ponte da Barca pelo IC28 e A27.

Em jeito de balanço final, posso dizer que é praticamente impossível não se ficar a amar este local e não se querer regressar. O percurso, esse, já está definido.

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