O trauma da via de circulação mais à direita

Se há coisa que todos sabemos, em termos de circulação rodoviária nas auto-estradas, é que a faixa mais à direita exerce sobre o condutor médio uma estranha sensação de repulsa. Não interessa quantas vias de circulação possui a auto-estrada, a mais evitada será mesmo a faixa mais à direita.

A ideia corrente é que a via da direita é só para camiões e outros veículos de marcha lenta, o que explica talvez o facto de ter ultrapassado há tempos um ciclista que circulava por essa faixa ali na A23. Por outro lado, podemos estar certos de que se por acaso o condutor de um veículo ligeiro for apanhado a circular nessa faixa, o estará a fazer porque só por aí ele consegue ultrapassar o veículo que circula à sua frente.

A conclusão a que chego é que, para o condutor médio português, circular pela via da direita é coisa de maricas. É assumir perante a restante comunidade que se está a conduzir um veículo tão fraquinho que até nos chegamos para o lado para deixar toda a gente passar, assumindo assim que todos os outros são melhores e mais competentes condutores que nós. E o pior é que eles nos ultrapassam dirigindo-nos um ar de reprovação! Nessa altura, circular pela via mais à direita torna-se um factor de exclusão social.

Em última análise, podemos até considerar a diversidade de vias de circulação numa auto-estrada como uma boa escala de classificação do grau de hombridade do condutor português: quando mais à direita mais mariconço. Quanto mais à esquerda mais macho latino.

O que fazer quando o veículo que possuímos não é propriamente um veículo cujo nome de modelo possua várias iniciais associadas à palavras "turbo"? Simples: circula-se pela via mais central possível. Aí já se pode dizer que estamos a circular a uma velocidade digna de um tractor mal tratado, sim, mas apenas porque efectivamente o queremos. Com um bocado de sorte, até forçamos os apressadinhos que nos ultrapassam, sinalizando a sua passagem com luzes e buzinadelas intermitentes, a fazê-lo pela via da direita. Isso constitui uma boa forma de fazer pirraça pois estaremos a força-los a passar pela via dos maricas, estando até no nosso pleno direito de lhes endereçar um sorriso com o seu quê de trocista.

Em suma, circular pela via mais à direita da faixa de rodagem da auto-estrada é um acto tremendamente reprovável que vai contra a mais pura natureza do melhor condutor do mundo: o condutor tuga.

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